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quarta-feira, 21 de julho de 2021

CONCERTO: Noiserv



CONCERTO: Noiserv
Ovar Expande’21
Escola de Artes e Ofícios
15 Jul 2021 | qui | 22:00


O Ovar Expande regressou à Escola de Artes e Ofícios, trazendo com ele os poemas e a música de Noiserv para o arranque de uma nova série de quatro concertos. Encerrado num verdadeiro “cubo mágico” e rodeado dos seus instrumentos, o “one man band” David Santos pôs em palco o seu enorme talento e capacidade multi-instrumental, transformando a noite numa sequência de momentos belos e intimistas. Ancorados em palavras dispersas por paisagens áridas, a tristeza e a dor misturadas com a ambiguidade das coisas impalpáveis ou etéreas, os poemas vestiram-se de uma música intensa e penetrante, dando a ver o porquê de Noiserv ser, inquestionavelmente, um dos mais estimulantes e criativos projectos surgidos nos últimos tempos no nosso país.

“Eram 27 Metros de Salto”, um dos temas do seu mais recente álbum, “Uma Palavra Começada por N” (2020), abriu as hostilidades. “O caminho é sempre vão, se não tentares pisar o chão / Apreender o que entender do teu próprio cansaço / É vender o medo ao mar, arriscando ele voltar / É ter sempre um salto por dar”. Nas palavras e na voz, a mensagem torna-se clara e obriga-nos a olhar para o mais fundo de nós. É uma mensagem directa e carregada de força, como directas e carregadas dessa mesma força serão a próxima e todas as outras ao longo do concerto. Escute-se “Por Arrasto” – “eu só tentei ver-me de pé / a forma incerta para entender-me de cor” – ou “Parou” – no dia em que se pôs a pé, no dia em que se foi / nada mais havia dentro, parou”, para se perceber que o mundo de Noiserv é uma espécie de limbo, as memórias fragmentadas feitas peças de um puzzle que teima em não encaixar, o sonho estagnado, o futuro incerto.

Embora fazendo de “Uma Palavra Começada por N” a grande montra deste concerto (além dos temas referidos anteriormente, Noiserv tocou ainda “Neutro” e “Sempre Rente ao Chão”), o artista passou em revista alguns temas dos seus álbuns mais antigos, de “Almost Visible Orchestra” (2013) a “Everything Should Be Perfect Even If No One’s There” (2014) e “00:00:00:00” (2016). Esta partilha do seu universo viria a condensar uma experiência de viagem por outras paragens, cruzamento de sons e imagens onde encontramos, de forma intensa ou apenas fugazmente, Surma e os Velvet Underground, Sigur Rós e Leonard Cohen, Jeff Buckley, John Cale ou Samuel Úria, um “cheirinho” de Twin Peaks. “Talvez sejam estes os lugares onde os comboios vão dormir à noite. Ou talvez não. Não sei.”

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