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quinta-feira, 22 de julho de 2021

CONCERTO: Bill Frisell Trio



CONCERTO: Bill Frisell Trio
FIME – 47º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório da Academia de Música de Espinho
16 Jul 2021 | sex | 21:00


Por ser tão comum o uso da expressão “tocar juntos”, tendemos com frequência a desvalorizar ou esquecer o seu verdadeiro significado. Além do natural “fazer música com outras pessoas” ou “apresentar-se em conjunto”, ela encerra toda uma unidade interior que se estende além das fronteiras do óbvio, conferindo ao conceito uma dimensão emocional própria, profunda e insondável, do domínio do espiritual. O guitarrista Bill Frisell, o contrabaixista Thomas Morgan e o baterista Rudy Royston provaram isso mesmo na noite da passada sexta feira, perante um público que esgotou pela metade (DGS “oblige”) o Auditório de Espinho. Em palco, num registo “non stop” de grande fôlego, o trio mostrou o que é “tocar juntos”, fazendo assentar a sua música numa tal cumplicidade e entrosamento que é como se houvesse apenas uma cabeça a dirigir as partes, os instrumentos cruzados, as frases musicais firmemente entrelaçadas, um propósito perseverante e resoluto, um pensamento único.

Estruturando o alinhamento do concerto em torno de “Valentine”, o seu segundo trabalho com a editora discográfica Blue Note lançado em Agosto do ano passado, Bill Frisell e os seus companheiros puseram em palco o seu virtuosismo e a sua qualidade instrumental, misturando elementos sonoros e explorando linguagens que cruzam domínios, estilos e géneros que vão da música folk ao jazz ou aos blues, sem esquecer a música de raíz africana ou as bandas sonoras de filmes e séries com as quais cresceu nos anos 50 e 60. Foi assim com o pulsar agitado e feito de improvisação de “Baba Drame”, como no orgânico “Hour Glass”, no doce “We Shall Overcome” ou no mágico “Valentine”. Frescura, inovação e lirismo fundem-se na música do Bill Frisell Trio de forma contínua, convidando o espectador a deixar-se levar numa onda verdadeiramente hipnotizante e a viajar por campos de papoilas, rios de água cristalina, praias desertas e crepúsculos de cortar a respiração.

São muitos os guitarristas no mundo do jazz, mas só há um Bill Frisell, um pioneiro cuja influência sobre várias gerações de guitarristas é incontornável. O seu ecletismo, a sua vontade de experimentar novas sonoridades e o uso de efeitos musicais tornaram-se, virtualmente, num projecto estilístico de excelência. É um guitarrista e compositor cuja carreira se estende por mais de quarenta anos de celebradas gravações, tendo visto o seu catálogo citado pela Downbeat como a melhor produção gravada da década”. Reconhecido como um dos mais versáteis e prolixos artistas americanos, Bill Frisell foi um dos Directores Artísticos do Festival de Jazz de S. Francisco e trabalhou com nomes de enorme prestígio como os de Charles Lloyd, John Zorn, Paul Motian, Elvis Costello, Paul Simon, Marianne Faithful ou Lucinda Williams. Foi este “monstro sagrado” da música americana e mundial que os espectadores puderam apreciar em Espinho. A longa e calorosa ovação final foi bem demonstrativa do reconhecimento e agradecimento por uma noite de excelência. Pena foi que não houvesse direito a “encore”.

[Foto: FIME - Festival Internacional de Música de Espinho | https://www.facebook.com/fimespinho]

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