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terça-feira, 20 de julho de 2021

CINEMA: "Colectiv - Um Caso de Corrupção"



CINEMA: “Colectiv – Um Caso de Corrupção”
Realização | Alexander Nanau
Argumento | Alexander Nanau, Antoaneta Opris
Fotografia | Alexander Nanau
Montagem | Dana Bunescu, George Cragg, Alexander Nanau
Interpretação | Liviu Iolu, Razvan Lutac, Mirela Neag, Camelia Roiu, Catalin Tolontan, Tedy Ursuleanu, Vlad Voiculescu
Produção | Hanka Kastelicová, Bernard Michaux, Alexander Nana, Bianca Oana
Roménia, Luxemburgo, Alemanha | 2019 | Documentário | 109 Minutos | Maiores de 14
Cinema Vida
18 Jul 2021 | dom | 16:00


Estreado em 2019nos Festivais de Veneza e Toronto, “Colectiv – Um Caso de Corrupção” traz consigo uma visão crua e desapiedada da corrupção que grassa na sociedade romena ao mais alto nível, à data dos acontecimentos. Os factos remontam a 30 de Outubro de 2015, dia em que um terrível incêndio no interior da discoteca Colectiv, no centro de Bucareste, vitimou sessenta e quatro pessoas e feriu mais de duzentas. Os violentos protestos que se seguiram levaram à queda do governo Social-Democrata e à demissão do executivo municipal mas, sobretudo, catalisaram interesses e valores que viriam a pôr a nu uma complexa rede de corrupção à escala nacional. Promovida por um jornal essencialmente desportivo, o Gazeta Sporturilor, a investigação mostrou, numa primeira fase, que mais de 300 hospitais romenos usavam desinfectantes diluídos, cujas baixas concentrações dos respectivos princípios activos os tornavam praticamente ineficientes. Mas isto foi só a ponta do iceberg.

O documentário narra na perfeição as distintas fases da investigação levada a cabo pelo jornal dirigido por Catalin Tolontan. Alexander Nanau mostra ao pormenor o trabalho jornalístico no momento de oferecer à opinião pública notícias absolutamente claras e fidedignas. Foi como realizar uma autópsia generalizada a todo um país corrupto até ao tutano, uma premissa extraordinária no domínio da ficção mas que, inacreditavelmente, consistia na mais pura das verdades. Retratar os factos com suma delicadeza, sem ferir a objectividade que se exige, é mérito do realizador que, em entrevista, atribuiu ao “factor sorte” aquilo a que chama de “observação pura”, as várias  personagens tão absorvidas com os seus afazeres que o realizador mais não teve que as filmar. Pegar no material filmado e acrescentar-lhe uma montagem rica e extremamente forte acaba por resultar neste documentário assombroso que mantém o espectador preso à acção da primeira à última cena.

Acompanhando uma verdadeira luta pela verdade, em guerra aberta com políticos manipuladores, pessoal médico corrupto e agentes sanitários oportunistas, o filme transforma-se num extenso trabalho jornalístico, levantando bem alto a bandeira da autenticidade, do rigor e da justiça, para nos dar a ver uma realidade difícil de digerir. Trata-se de desmascarar aqueles que se julgam invulneráveis perante a lei e, no limite, exaltar o verdadeiro jornalismo de investigação e a forma como pode influenciar a opinião pública numa sociedade tomada pela incompetência, ganância e populismo. As questões vão surgindo com toda a naturalidade: Ante as evidências, porque é que não se tomaram medidas atempadas? Quão funda é a chaga de um país corrupto? O que podemos fazer para mudar as coisas? Que humanidade resta depois disto? Foi na Roménia mas podia ter sido em Portugal? Questões e mais questões que remetem para uma realidade redundante e obscena. E que nos pedem para estarmos atentos e levantarmos a guarda.

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