CONCERTO: “3 Mestres, 3 Sonatas” | Frank Peter Zimmermann, Martin Helmchen
FIME - 47º Festival Internacional de Música de Espinho
Auditório da Academia de Música de Espinho
22 Jun 2021 | ter | 21:00
Julgo não correr um risco em demasia ao afirmar que a esmagadora maioria das pessoas presentes no magnífico concerto da passada terça feira, no Auditório da Academia de Música de Espinho, teria permanecido hipnotizada horas e horas a escutar o piano de Martin Helmchen e o violino de Frank Peter Zimmermann, caso tal tivesse sido possível. Na sua forma “clássica” de devolver a grande música, a dupla mostrou-se de tal forma envolvente e sedutora que o tempo fluiu rapidamente sem termos disso dado conta. Ao mesmo tempo, é tão evidente a harmonia do conjunto que mesmo as notas mais delicadas e imperceptíveis se espalham pelo Auditório com uma clareza absolutamente cristalina. Resultado: Um concerto único, verdadeiramente apaixonante e redentor, a lembrar-nos o quanto a música clássica faz parte das nossas vidas.
O que mais se destaca em Helmchen e Zimmermann é que, apesar de pertencerem a diferentes gerações de músicos, ambos coincidem na sua resistência em render-se às modas do mercado. Não há “ismos” que resumam a sua forma de tocar, antes são as suas próprias convicções e essa autenticidade, essa franqueza, que realmente fascina aqueles que têm o privilégio de os escutar. Ao Auditório da Academia de Música de Espinho, no âmbito do 47º Festival Internacional de Música da cidade, Helmchen e Zimmermann trouxeram um programa composto exclusivamente por Sonatas para violino e piano de Ludwig van Beethoven, numa altura em que ainda se fazem sentir os ecos do 250º aniversário do nascimento do grande compositor. Foi, assim, possível escutar as Sonatas números 8, 9 “Kreutzer” e 10, três peças extremamente exigentes do ponto de vista da sua execução mas irresistíveis na sua vivacidade, harmonia e emoções que delas se derramam.
Com Zimmermann e Helmchen, Beethoven soa cheio de elegância. Como um pintor exaltado perante a tela em branco, o violino vai traçando linhas destras e precisas que o piano se encarrega de preencher de cor e alegria. Fluida e sorridente, a música vive do fraseado distinto do violino, dos seus vibratos subtis, que o piano, ágil e maleável, se encarrega de acompanhar. É fascinante ver como Helmchen traduz para o piano as suaves e claras propostas de Zimmermann, com ele articulando de forma transparente, em concordância absoluta, respirarando em uníssono, interpretando o texto musical de forma lúcida e com venerável respeito pelo compositor. Uma chuva de aplausos fechou esta noite preciosa, os espectadores recompensados por Helmchen e Zimmermann com um extraordinário encore, o Adagio da Sonata para Violino e Piano nº 1 Op. 78, “Regensonate”, de Johannes Brahms. O final mais que perfeito!
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