CERTAME: CINANIMA – Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho
09 a 15 Nov 2020
Chega hoje ao fim a 44ª edição do CINANIMA - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho. Levado a cabo em plena crise pandémica, o certame teve que se adaptar a um número enorme de constrangimentos, tendo decorrido exclusivamente online (na plataforma https://cinanima.kinow.tv), mediante uma subscrição simbólica. Perdeu-se o ambiente em sala, o convívio, a partilha, as palavras dos convidados ligados à produção e realização dos filmes e tudo o mais que faz do cinema um acontecimento social por excelência, mas ter-se-á ganho em número de espectadores que tiveram a oportunidade de visionar as mais de trinta sessões e as quase duas centenas de filmes apresentados nas secções de competição e não-competitivas.
“Altötting”, filme do alemão Andreas Hykade que contou com a colaboração de Regina Pessoa na direção artística e supervisão de pintura, foi o meritório vencedor desta edição. Profundamente autobiográfico – o próprio título remete para uma pequena aldeia da Baviera onde nasceu o realizador e que é, simultaneamente, um dos mais importantes locais de peregrinação da Alemanha -, o filme conta-nos a história de um rapaz que se apaixona pela Virgem Maria. De enorme beleza plástica, com um sentido de humor refinado e uma mensagem fortíssima face aos tempos que vivemos, o filme conquistou, muito justamente, o júri, constituído por Manuel Mozos, Florence Miailhe e Jayne Pilling. Destaque ainda, na competição internacional, que teve em exibição 68 filmes, para “Rivages” , da realizadora e ilustradora francesa Sophie Racine, que levou para casa o Prémio Especial do Júri com uma curta-metragem de cariz naturalista, onde sobressai o enorme rigor do desenho, num preto e branco sem concessões, que nos devolve a beleza dos pássaros no seu vôo, das plantas ondulando ao vento, das brincadeiras e risos das crianças ou dos rigores de uma tempestade de Verão.
Falando ainda da competição internacional de curtas metragens, de fora dos prémios ficaram outros filmes de grande beleza e significado que destacaria sumariamente. “Casa”, da letã Anita Bruvere, fala-nos do nº 19 de Princelet Street, no leste de Londres, uma casa de refugiados que, ao longo de três séculos, recebeu Huguenotes, Irlandeses e Judeus e é hoje um Museu da Imigração e Diversidade. “Carne”, da brasileira Camila Kater, mostra-nos cinco momentos-chave na vida da mulher, cada um deles narrado por uma personagem diferente que se relaciona com o seu corpo. É um filme onde o valor da mensagem suplanta a qualidade da animação mas cuja força não deixa ninguém indiferente. Realizado pala canadiana Robin McKenna, “Thanadoulos” relata a experiência pessoal de uma mulher que acompanha pessoas nos seus últimos instantes de vida e constitui um tributo à sua irmã Anne Eskenazy, que morreu sozinha num hospital psiquiátrico. Finalmente, “Depois do Eclipse”, da argentina Bea R. Blankenhorst, uma parábola sobre o preconceito e a forma como os nossos defeitos, ao invés de nos aproximarem, nos afastam um dos outros.
Na competição nacional, entre os 29 filmes a concurso, “Elo”, de Alexandra Ramires, foi galardoado com o Prémio António Gaio. Também aqui o painel de jurados, que incluiu Bruno Caetano, Paulo Gomes e Vier Nev, esteve bem, visto ser este um filme que combina na perfeição a originalidade do tema com o virtuosismo e a qualidade da animação. Pegando em duas personagens em tudo diferentes uma da outra, Alexandra Ramires explora a perfeita simbiose que ambas conseguem alcançar para nos dar a ver o esforço de superação em toda a sua dimensão. Importa referir nesta secção outros dois filmes que me impressionaram vivamente, “Nós, Os Lentos”, de Jeanne Waltz, e “Repensar – Muhammad Munir”, de Pedro Serrazina, este último debruçando-se sobre questões relacionadas com a exclusão social e parte integrante do projecto “ReThink – Heróis da Comunidade”, uma campanha contra a discriminação patrocinada pela União Europeia. O Prémio Jovem Cineasta Português foi atribuído, ex-aequo, a “Decapitada”, do Coletivo Escola Básica e Secundária Dr. Machado de Matos (Felgueiras), e a “Walkthrough”, de Sofia Salt. Dos restantes dezoito filmes a concurso nesta secção, destacaria ainda “During December”, “Rachado”, de António Lucas, Rita Branco e Ana Rodrigues e, sobretudo, o poético “Palavras Gastas”, de Maria Giraldes.
Referentes a filmes que não tive oportunidade de ver, a secção “Estudantes – Competição Internacional” teve em “White Horse”, de Yujie Xu, do Reino Unido, o grande vencedor. “The Nose or the Conspiracy of Mavericks”, de Andrey Khrzhanovsky, foi eleita a melhor longa-metragem. Fora da secção competitiva, o CINANIMA ofereceu um vasto conjunto de filmes, com especial destaque para as longas-metragens “Velhas Lendas Checas”, uma jóia da animação do mestre Jirí Trnka (1953) e “As Andorinhas de Cabul”, dos franceses Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec, um filme que teve uma aclamada estreia na edição de 2019 do Festival de Cannes, na secção Um Certain Regard. De The Animation Workshop, departamento da VIA University College (Aahrus, Dinamarca) puderam ser vistos oito curtas, tantas quantas as propostas pela Estonian Academy of Arts (Tallinn, Estónia). Do Festival de Cinema de Zlin (República Checa) e o cipriota AnimaFest pudemos ver alguns destaques das suas mais recentes edições, enquanto nas restrospectivas temáticas o programa reuniu filmes que ilustraram “Uma Década de Animação Europeia” e reflectiram sobre os “75 Anos Depois do Fim da Segunda Grande Guerra Mundial”. O programa completou-se com os 22 filmes da secção Panorama e com uma retrospectiva dos filmes premiados na edição de 2019.
Sem comentários:
Enviar um comentário