LIVRO: “Florbela”,
de Sandrine Cordeiro
Ed. Minimalista, Setembro de 2020
“Aninhada no cadeirão do pai, fechou o livro. Inspirou profundamente. Tinha acabado de regressar da sua viagem literária. Num instante, afligiu-se. Não se lembrava de uma única frase, nem de uma única palavra, lidas nas duas horas anteriores. Levantou-se num ápice, sentiu tonturas e voltou a deixar-se cair no cadeirão. Não entendia nada daquilo. Este livro ainda me mata, pensou. Olhou em redor, a casa estava limpa.”
Dar vida a um livro, pô-lo em diálogo com o leitor e, assim, acentuar a influência do objecto literário nas nossas vidas, tal é o desígnio de “Florbela”. É com emoção que, desde as primeiras páginas, vemos impor-se esta verdade e nos abandonamos à escrita de Sandrine Cordeiro, deixando-nos guiar através de uma floresta de sensíveis e delicadas cores, retratos de alma que nos mergulham na narrativa e nos tornam parte integrante sua. Saltitando entre o real e o imaginário, a autora faz de cada passagem um comovente momento poético que exalta os sentidos e predispõe ao sonho e à fantasia.
Cruzando escalas de tempo distintas, misturando personagens e conferindo à própria literatura um protagonismo insuspeitado, “Florbela” move-se num mundo fantástico onde a acção é obra do imponderável e o acaso só espreita uma brecha para nos surpreender. É assim com esta criança que decide começar a juntar as letras precocemente e adopta o nome de Florbela perante o espanto e a raiva da sua própria mãe. Um nome que não surge por acaso, como não serão fortuitos os passos que conduzem a menina à idade adulta e a levam a cruzar-se com outras personagens (ou com a ideia que delas faz) ao longo do seu trajecto de vida. Mas isso é algo que o leitor terá de desvendar, ao mesmo tempo percebendo que tem em mãos uma jóia rara que nos obriga a fixar o nome da autora e a aguardar ansiosamente por novos trabalhos.
Muito grata pelas suas palavras!
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