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domingo, 15 de novembro de 2020

CONCERTO: António Zambujo + Concerto Milha Ricardo Filipe



CONCERTO: António Zambujo + Concerto Milha Ricardo Filipe
Casa da Cultura de Ílhavo
13 Nov 2020 | sex | 21:00


Ultrapassar as contrariedades impostas pelo novo estado de emergência e levar por diante o concerto de António Zambujo, complementando-o com a apresentação de Ricardo Filipe em mais um Concerto Milha, foi o desafio com o qual o 23 Milhas, projecto cultural do Município de Ílhavo, se viu confrontado e que tão bem soube tornear. Começando pelo Concerto Milha e pela presença em palco do cantor e compositor ilhavense, infelizmente passou-se ao lado daquilo que seriam as expectativas de quem, como eu, pagou bilhete (também) para o ouvir. Do que foi possível escutar, ficou uma voz cuidada, um belíssimo domínio do instrumento e poemas de enorme riqueza. Mas aquilo que marca, verdadeiramente, este escasso quarto de hora inicial é a forma desrespeitosa como cantor e público foram tratados, os assistentes de sala a permitirem entradas a desoras (já o concerto de António Zambujo decorria e ainda havia gente a entrar na sala) e a arruinarem um momento que deveria ser de festa e consagração. Mais do que incompreensível, esta é uma situação inadmissível e que, de modo algum, deverá repetir-se.

Quanto ao concerto de António Zambujo, o mínimo que se pode dizer é que não desmereceu de todas as anteriores performances a que pude assistir, fazendo do serão na sala ilhavense mais um delicado momento onde música e poemas se combinam em registos sentidos, de enorme intensidade e beleza. Com “a faca sobre o pescoço” em termos de horários – “às dez e meia temos todos de nos pôr na alheta, já sabem disso”, avisaria o cantor logo de início -, ainda assim houve tempo para um alinhamento que incluiu dezasseis músicas e não dispensou o incontornável “encore” com uma mais de bónus. E foi assim que, a par das menos conhecidas “Valsa do Vai Não Vás”, “Flintstones” ou “Valsa de Um Pavão Ciumento”, o público rejubilou com os icónicos “Zorro”, “Catavento da Sé”, “Pica do 7”, “Flagrante”, “Algo Estranho Acontece”, “Lambreta” e muitos outros temas bem conhecidos do cantor.

Combinando o intimismo mais fundo nessa inspirada fusão de “A Tua Frieza Gela” e “Cucurrucucú Paloma”, com uma sala em delírio na hora de “discos pedidos”, que mais não foi do que o reconhecimento do carinho que o público nutre pelo cantor e pela sua música, António Zambujo satisfez plenamente os presentes, mostrando a sua versatilidade e brindando-os com ritmos sertanejos em “No Rancho Fundo” e “Luar do Sertão”, modas alentejanas em “Eu Ia Pela Rua” e “Menina Estás à Janela” e ainda o fado em “Rosinha dos Limões” e “Apelo (Fado Perseguição)”, tema de abertura deste concerto. O “vibrato zambujeano”, que estaria destinado a fazer escola no mundo inteiro caso fosse Zambujo um cantor lírico, foi presença constante e a enorme capacidade do seu fôlego ficou bem vincada em momentos de cortar a respiração. No final fica a certeza de um momento belíssimo, que nem a máscara que coloca em cada um de nós um ar de ladrão consegue roubar.

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