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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "ReGenesis" | Gonçalo Delgado


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “ReGenesis”,
de Gonçalo Delgado
Encontros da Imagem de Braga
Casa dos Crivos
11 Set > 31 Out 2020


“A luta é desigual, Entre a primeira linha e os primeiros infectados, a tensão vibra no olhar vazio de quem roga à praga. Respiramos, colmatando a incerteza do amanhã, entre máscaras – que não são mais que um placebo dos tempos modernos. Flamejamos onde o último vislumbre não nos foi permitido, entre medidas de protecção incoerentes e moratórias desajustadas. A saudade mata num confinamento que destrói os cânones mais básicos da sociedade e interligação pessoal. Damos por nós a sentir falta do abraço que não chegou, do sorriso que não vemos, tapado pela incerteza que amanhã será melhor. Renasceremos assim pela dedicação e amor daqueles que deram tudo por cintilar um amanhã, pela vida, por nós.”

É sob o signo da máscara que decorre, até ao próximo fim de semana, a 30ª edição dos Encontros da Imagem de Braga. Um signo ao qual impossível se torna escapar, a normalização de toda uma sociedade garantida mediante este encobrimento parcial do rosto, a impossibilidade de expressar num sorriso aberto ou numa careta de desconforto as emoções do momento. E, porém, a vida continua. Ordeiramente acedemos aos espaços públicos de máscara no rosto e, em nome da Saúde Pública, afastamo-nos uns dos outros, recusamos o abraço ou o beijo, condicionamos os momentos de pausa e convívio, aceitamos que nos impeçam de aconchegarmos os mais indefesos ou resignamo-nos quando nos é vedado um último adeus. Nestas alturas, o corpo estremece e o coração pára por instantes, para logo retomar a sua cadência, obrigando-nos a refazermo-nos a cada instante. A renascer.

“ReGenesis” fala-nos deste tempo em que vivemos, um tempo nebuloso, indefinido, desbotado, tal como as imagens de Gonçalo Delgado que vemos surgir perante o nosso olhar. São imagens que contam histórias, nem sempre de final feliz. Imagens que acompanham a linha do tempo, do primeiro choro do recém-nascido ao derradeiro instante da partida para um além que ninguém sabe onde se situa. Imagens que reclamam recolhimento e que apontam para o mais íntimo de cada um, imponderáveis viajantes nesta barca a que chamamos corpo, eternos aprendizes na arte de fintar o destino, cativos por inteiro de um “plim” da sorte. Imagens que nos surgem desfocadas a ponto de colocarmos em causa o nosso discernir. E então, fatalmente, encalhamos na eterna pergunta para um milhão de euros: Porquê eles e porque não eu?

Patente na Casa dos Crivos até ao próximo dia 31 de Outubro, “ReGenesis” confirma Gonçalo Delgado como um fotojornalista de excelência. Dele tivera oportunidade de ver, no âmbito dos prémios Estação Imagem, trabalhos tão intensos como “Inferno” ou aqueloutro sobre a Semana Santa de Braga. Desta vez, porém, supera-se. A imagem congelada, o tempo parado, são vincos duma estética hiper-realista que acentua a dimensão desta verdadeira tragédia que se abate sobre a humanidade. São imagens de um tempo nosso. Por essa razão estranhamos a azáfama de uma sala de emergência, uma vida inocente lançada no mundo ou um cortejo fúnebre tão parcamente composto. Da mesma forma que sentimos a nossa revolta na proporção directa da nossa impotência. As imagens, essas, estão lá para nos dar conta da nossa própria verdade.

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