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domingo, 4 de outubro de 2020

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Estado do Tempo"


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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Estado do Tempo”
Vários autores
Curadoria | Rui Prata, Manuel Miranda
Encontros da Imagem de Braga
Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior, Avintes
03 Out > 31 Out 2020


Para falarmos de “Estado do Tempo”, importa recuar a Maio de 1999 e à 13ª edição dos Encontros da Imagem de Braga, altura em que esta exposição foi inaugurada. Com um total de 248 imagens, a mostra tomou conta do espaço da Fábrica Confiança, na Cidade dos Arcebispos, condensando o trabalho de dez meses de Rui Prata, um dos dois directores dos Encontros, e Manuel Miranda, um dos fundadores dos Encontros de Coimbra. Em conjunto, seleccionaram em alguns arquivos fotográficos as imagens que pudessem sumariar o curso da história portuguesa ao longo de três quartos de século, período a que corresponde o início e a generalização da imagem fotográfica publicada na imprensa de massas. Fugiram “à pura ilustração dos grandes eventos, à imagem institucionalizada dos regimes políticos e da sua entronização cerimonial”, trocando a cronologia dos acontecimentos e das figuras oficiais por imagens que concedessem “a máxima visibilidade aos modelos comportamentais, aos sentimentos e emoções, aos valores e estados de ânimo colectivos, captados pela fotografia”, como refere Manuel Miranda na introdução ao catálogo da exposição.

É justamente este itinerário ao longo das “épocas vorazes” (1900-1933), do “poder das sombras” (1933-1961) e do “compasso de espera” (1961-1974), que serve de base à exposição ontem inaugurada em Avintes, numa muito saudada parceria entre os Encontros da Imagem de Braga e o iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes. No átrio da Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior podemos encontrar não a exposição original, mas uma pequena parte dessas imagens, num total de trinta, criteriosamente selecionadas no sentido de transmitirem a ideia original dos curadores em pôr o acento tónico na originalidade do olhar ou na sensibilidade do fotógrafo, alguém que soube acrescentar à banalização dos testemunhos mecanicamente registados a eventual curiosidade por um tema invulgar ou a diferença da densidade significante que é assegurada por um ponto de vista e uma composição particulares.

Explorando os vastos arquivos do “Diário de Notícias” e de “O Século”, mas também do Arquivo de Fotografia de Lisboa, do Arquivo Abel Resende e do Arquivo “Formidável”, alcunha de Fernando Marques, cauteleiro e fotógrafo, cujo espólio está preservado na Imagoteca Municipal de Coimbra, Rui Prata e Manuel Miranda cruzaram-se com nomes como os de Joshua Benoliel e C. Garcês, mas também, certamente, com os de Deniz Salgado, Salazar Dinis, Júlio Marques da Costa, Firmino Marques da Costa, António Novaes, José Lobo e até Augusto Cabrita e Eduardo Gageiro, já nos anos 60. O resultado é uma gritante chamada de atenção para a enorme riqueza desconhecida que se deposita nos pouco explorados arquivos fotográficos nacionais e um potente manifesto acerca da arte fotográfica, mostrando como o respectivo universo é igualmente o das imagens funcionais, anónimas e vernaculares, realizadas com fins práticos (no caso, a Imprensa) por artesãos dedicados que não tiveram por primeiro objectivo fazer arte ou declararem-se artistas. A não perder, até ao próximo dia 31 de Outubro!

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