CONCERTO: Iván Sanjuán Cuarteto
EstarreJazz 2020
Cine-Teatro de Estarreja
03 Out 2020 | sab | 21:30
Foi sob o signo da amizade que o Iván Sanjuán Cuarteto se apresentou no Auditório do Cine-Teatro de Estarreja, fechando o primeiro de dois fins de semana do EstarreJazz 2020. Perante uma moldura de público bastante aceitável, cuidadoso mas muito teimoso, que rejeita ser vencido pelo malvado vírus e faz questão de, com a sua presença, manter vivos os equipamentos onde se oferece cultura, o quarteto que se fez à estrada desde o país irmão veio mostrar-nos como a música e a amizade podem ser duas faces da mesma moeda. Amizade porque, nas relações humanas que estabelecemos, nunca como hoje a lealdade, o altruísmo, a cooperação, a solidariedade e a partilha foram valores tão importantes. Amizade, porque a música é um veículo de união de interesses e vontades, que nos aproxima e abraça. E amizade (“Friendship”), porque é esse o título do primeiro álbum de originais deste quarteto, editado no ano passado e que serviu de base ao concerto da noite de ontem.
Com uma formação clássica composta por Iván Sanjuán na bateria, Joaquín de la Montaña no saxofone tenor, Pedro Calero no piano e Enrique Tejado no contrabaixo, o Iván Sanjuán Cuarteto ofereceu-nos setenta minutos de um jazz belíssimo, harmonioso, essencialmente “smooth” mas capaz de crescer para formas mais “free” e assente nas inspiradas composições de Iván Sanjuán, um percussionista com fortes ligações ao nosso país. “Brooklin With You” abriu a sessão e abriu, ao mesmo tempo, as mentes para um jazz feito de emoção e sentimento, que teve o condão de nos levar a saborear um final de tarde de Verão numa esplanada à beira-mar, as brincadeiras e os risos das nossas crianças ou um beijo apaixonado no meio de um campo de girassóis. Seguiu-se “Head Street”, numa alusão à “Rua da Cabeça” onde reside Iván Sanjuán, mas sobretudo uma sentida homenagem ao Bairro de Lavapiés, outrora um arrabalde da cidade medieval de Madrid e hoje um centro da multiculturalidade e do activismo. Mais ritmado e livre, “Electric Miniamba” transportou-nos aos grandes centros urbanos da África Negra, deixando adivinhar as influências do jazz que se faz em Bamako, Abidjan, Bissau ou Dakar.
A dolência de “Para El Recuerdo” veio evidenciar a excelência interpretativa de Joaquín de la Montaña, um saxofonista de primeira água que distribuiu afectos no embalo do seu saxofone e apontou caminhos de verdadeira felicidade. Vieram depois “Raquel”, e também “UHJAD”, dois temas carregados de “swing”, alegres e brincalhões, numa homenagem aos sobrinhos do líder deste quarteto. Com o concerto a aproximar-se do final, “Para Ti” constituiu o momento mais alto do serão, a bela e inspirada composição como um bálsamo, as teclas delicadamente dedilhadas por Pedro Calero a porém um calorzinho bom no coração de cada um dos presentes. “No Es Tan Duro” encerrou o concerto, colocando uma nota de esperança e de confiança num futuro que se quer “clean & safe”, evidentemente, mas que nos permita voltar a respirar “sem filtros” e a viver a cultura como deve ser vivida: sem barreiras, nem distâncias. Obrigado Iván Sanjuán Cuarteto por este pedacinho de felicidade. E de amizade!
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