CINEMA: “Martha: A Picture Story”
Realização | Selina Miles
Argumento | Davis Coombe, Drew Macdonald (consultores)
Fotografia | Marcus Autelli, Selina Miles
Montagem | Selina Miles, Simon Njoo
Interpretação | Colin Cassidy, Martha Cooper, Dondi, Otávio Pandolfo, Gustavo Pandolfo, 1UP Crew, Shepard Fairey
Produção | Daniel Joyce
Austrália, Estados Unidos | 2019 | Documentário, biografia | 82 Minutos | Maiores de 12
Auditório da Banda da Covilhã
25 Set 2020 | sex | 21:15
Martha Cooper é uma fotógrafa nova-iorquina que soube reconhecer a importância da arte do graffiti quando este surgiu pela primeira vez na Big Apple em finais dos anos 70. Numa altura em que ninguém queria assumir que o graffiti poderia ser algo interessante, Cooper deu-lhe um sentido de arte marginal, fora da lei, carregada de emoção e fascínio. Durante um período de cinco anos, fez milhares de fotografias sobre aquilo que, apesar de tudo, lhe parecia ser um movimento passageiro, sem imaginar que o graffiti viria a tornar-se um fenómeno à escala global, abrindo caminho à Arte Urbana tal como a conhecemos hoje em dia. Encantada com os registos que ia fazendo, a artista acabou por publicar, em 1984, em parceria com Henry Chalfant, “Subway Art”, obra considerada o texto definitivo para artistas de rua, verdadeira bíblia para criadores de graffiti do mundo inteiro e que conheceu, até à data, milhares de reimpressões.
Num documentário extraordinariamente bem construído, a realizadora australiana Selina Miles traça a carreira de Cooper, acentuando a incrível resiliência e paixão da fotógrafa, bem como a sua rebeldia ao afirmar, em 1977, que “o Bronx estava a pegar fogo”. O filme está repleto de imagens incríveis de Cooper a deambular entre as crianças dos bairros pobres de Nova York, familiarizando-se com elas o suficiente para ser aceite nos gangs que, na calada da noite, faziam do graffiti uma forma de vida. Foi essa intimidade que permitiu que ela capturasse algumas das suas imagens mais icónicas e que ainda hoje, entrada nos setenta anos, continue a exalar uma enorme paixão e energia para detalhar e observar o graffiti, como se percebe nas sequências finais deste documentário no qual é filmada num louco passeio nocturno com os 1UP, ao encontro das carruagens de comboios de Berlim.
É fácil percebermos o porquê de esta mulher se ter encantado com a diversidade artística que reside na criação de murais nas fachadas laterais de prédios, em paredes dispersas ou em carruagens dos comboios ou do metro, oferecendo a muitos artistas uma total liberdade de expressão. Ao contar a história de Cooper, Selina Miles quis, com este filme, analisar a maneira como documentamos e transmitimos determinados momentos das nossas vidas, seja apontando uma lata de spray para um velho portão, postando uma selfie ou publicando um livro. No cerne da condição humana está a necessidade de proclamar a sua existência, de dizer "estou aqui". Foi isso que impulsionou os primeiros artistas de rua, que continua a servir de motor à infatigável Martha Cooper e que faz com que cada um de nós aceite correr riscos. De outra forma, a vida não faria sentido.
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