[Clicar na imagem para ver mais fotos]
EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Paisagens Impossíveis”,
de Ana Carvalho
iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes
04 Set > 30 Set 2020
“Por isso amo as paisagens impossíveis, as grandes áreas desertas dos planos onde nunca estarei. As épocas históricas passadas são de pura maravilha, pois desde logo não posso supor que se realizarão comigo. Durmo quando sonho o que não há: vou despertar quando sonho o que pode haver.”
Fernando Pessoa, “Livro do Desassossego”
No âmbito do iNstantes – Festival Internacional de Fotografia de Avintes, a decorrer até ao final deste mês, Ana Carvalho, fotógrafa portuguesa radicada na Holanda, regressa ao nosso país com uma magnífica exposição à qual decidiu chamar “Paisagens Impossíveis”. Ocupando um dos espaços da Casa da Cultura Francisco Marques Rodrigues Júnior, em Avintes, esta mostra é composta por cerca de vinte imagens, todas elas “paisagens impossíveis”, nascidas de um processo de reflexão e análise sobre um conjunto de registos, dir-se-ía, casuais, nos quais a artista percebeu um género de paisagens, sobretudo porque “possuíam características formais suficientes para sê-lo”.
Cada imagem é um convite à interpretação, de acordo com a sensibilidade e o sentido do gosto do visitante, sobre tudo aquilo que se abre ao seu olhar. Um convite a que perceba onde termina a realidade representada e tem início um fascinante mergulho na abstracção. Que, em sobressalto, faça o exercício de rodar a fotografia para a esquerda ou para a direita, à espera de se surpreender, procedendo, enfim, ao recorte que dará à imagem a sua forma final. Que aceite jogar o jogo da manipulação visual, consciente de que nele reside o paradoxo de estar a ser enganado sem o ser, na verdade. E se quiser ver na tinta estalada de um portão um horizonte de ameaçadoras nuvens ou descortinar numa cordilheira nevada o ponto de encontro dos degraus com uma parede, tanto melhor.
Mais do que convocar o nosso olhar mediante o sentido estético que se derrama das formas, das cores ou das texturas que se adivinham em cada plano fotografado, Ana Carvalho questiona-nos, provoca-nos e, enfim, desassossega-nos. O desafio, se assim o for entendido, é dirigido aos sentidos como um todo, através do estabelecimento de narrativas que, em si mesmas, nos fazem levitar sobre mares e montanhas, ao encontro de nós mesmos. São paisagens impossíveis, de pinceladas vigorosas feitas, carregadas de sol e de sal, de fogo e do pó da terra, tornadas possíveis graças ao génio artístico de Ana Carvalho. Para quem a fotografia é, “muito mais do que a representação, a ilustração da realidade”.
Belíssimo texto e excelentes imagens!
ResponderEliminarPena que o C19 seja de alguma forma, limitativo para uma visita à exposição.