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sábado, 9 de novembro de 2019

TEATRO: "A Menina do Mar"



TEATRO: “A Menina do Mar”
Texto | Sophia de Mello Breyner Andresen
Encenação | Ricardo Neves-Neves
Cenografia | Henrique Ralheta
Música | Edward Luiz Ayres d’Abreu
Figurinos | Rafaela Mapril
Interpretação | Ana Valentim, Catarina Rôlo Salgueiro, Nuno Nolasco, Rafael Gomes, Teresa Coutinho
Músicos | Bethany Carmo, Miguel Costa, Miguel Polido, Ricardo Santos, Fernando Brites, Daniel Bolito, Francisca Fins, Catarina Távora, Miguel Menezes
Direcção Musical | Martim Sousa Tavares
Produção | MPMP e Teatro do Eléctrico
Duração 60 minutos | Maiores de 6 anos
Centro de Artes de Ovar
11 Out 2019 | sex | 22:00


“ – Mas o que é a saudade? – perguntou a Menina do Mar.
– A saudade é a tristeza que fica em nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.”

Quando se comemora um século sobre a data de nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos seus títulos mais amados e lidos transforma-se em conto musical pela mão do neto da poeta, Martim Sousa Tavares. Com a voz, o corpo e o gesto de cinco actores, dez instrumentistas e um maestro, o espectador é convidado a percorrer o universo marítimo e fantástico de uma menina que vive no mar – mas muito curiosa pela vida em terra – e de um menino que vive em terra – mas muito curioso pela vida no mar. Desde a inquietação e desconfiança das primeiras descobertas até à festa derradeira em que todos dançam alegremente, persiste a pergunta fundamental: será possível vivermos todos nós em harmonia com o oceano, a natureza, a vida que nos rodeia?

Estreada no início do passado mês de Maio, no Teatro Luís de Camões, a peça entra agora em itinerância, tendo “aportado” ao Centro de Artes de Ovar para uma representação única. Levado nas asas do sonho, o público presente viveu um momento de teatro repleto de surpresa e encantamento, quer pela poesia que se derrama do texto, quer pelo talento de Ricardo Neves-Neves à frente da encenação, quer ainda pelo privilégio de ter uma orquestra em palco, com a enorme riqueza de apontamentos que daí advém. Sob o olhar grave e atento do contrabaixista, o muito respeitável Rei do Mar e entre um simpático peixe clarinetista, um desconfiado caranguejo saxofonista, um misterioso e algo desajeitado polvo fagotista e muitas outras personagens desconcertantes, a peça permite desvendar uma história de amizade entre um rapaz e a Menina do Mar, apostados em partilhar aquilo que os distingue e torna únicos: a menina fica a saber o que é o amor, a saudade e a alegria; o rapaz aceita viver com ela no fundo do mar.

Unindo a terra e a água numa mesma pátria de alegria e fluidez, “A Menina do Mar” é o segundo livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado em 1947, após o volume “Poesia”. Aqui, como de resto em muita da sua obra, a poeta busca a perfeição, a pureza e a harmonia, utilizando alguns lugares recorrentes como o mar, a praia, a casa e o jardim. Visitando a infância, onde aprendeu a ouvir as vozes das coisas, o mar é aqui uma fonte de purificação e um lugar onde tudo adquire sentido. Pode ser esta uma história para crianças mas a mensagem serve principalmente para as pessoas mais crescidas capazes de entender que não devem desistir dos seus sonhos à primeira dificuldade. Que o Teatro do Eléctrico tenha querido associar-se ao momento tão especial do centenário do nascimento de Sophia e tenha sabido, com esta peça, respeitar o sentido da obra, valorizando-a com o gesto e enriquecendo-a com a música, é algo que muito se louva.

[Foto: mundoportugues.pt/]

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