TEATRO: “A Menina do Mar”
Texto
| Sophia de Mello Breyner AndresenEncenação | Ricardo Neves-Neves
Cenografia | Henrique Ralheta
Música | Edward Luiz Ayres
d’Abreu
Figurinos | Rafaela MaprilInterpretação | Ana Valentim, Catarina Rôlo Salgueiro, Nuno Nolasco, Rafael Gomes, Teresa Coutinho
Músicos | Bethany Carmo, Miguel Costa, Miguel Polido, Ricardo Santos, Fernando Brites, Daniel Bolito, Francisca Fins, Catarina Távora, Miguel Menezes
Direcção Musical | Martim Sousa Tavares
Produção | MPMP e Teatro do
Eléctrico
Duração 60 minutos | Maiores de 6 anos
Centro de Artes de Ovar
Duração 60 minutos | Maiores de 6 anos
Centro de Artes de Ovar
11 Out 2019 | sex | 22:00
“ – Mas o que é a saudade? –
perguntou a Menina do Mar.
– A saudade é a tristeza que fica em
nós quando as coisas de que gostamos se vão embora.”
Quando se comemora um século sobre a
data de nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen, um dos seus
títulos mais amados e lidos transforma-se em conto musical pela mão
do neto da poeta, Martim Sousa Tavares. Com a voz, o corpo e o gesto de
cinco actores, dez instrumentistas e um maestro, o espectador é
convidado a percorrer o universo marítimo e fantástico de uma
menina que vive no mar – mas muito curiosa pela vida em terra – e
de um menino que vive em terra – mas muito curioso pela vida no
mar. Desde a inquietação e desconfiança das primeiras descobertas
até à festa derradeira em que todos dançam alegremente, persiste a
pergunta fundamental: será possível vivermos todos nós em harmonia
com o oceano, a natureza, a vida que nos rodeia?
Estreada no início do passado mês de
Maio, no Teatro Luís de Camões, a peça entra agora em
itinerância, tendo “aportado” ao Centro de Artes de Ovar para
uma representação única. Levado nas asas do sonho, o público
presente viveu um momento de teatro repleto de surpresa e
encantamento, quer pela poesia que se derrama do texto, quer pelo
talento de Ricardo Neves-Neves à frente da encenação, quer ainda
pelo privilégio de ter uma orquestra em palco, com a enorme riqueza
de apontamentos que daí advém. Sob o olhar grave e atento do
contrabaixista, o muito respeitável Rei do Mar e entre um simpático
peixe clarinetista, um desconfiado caranguejo saxofonista, um
misterioso e algo desajeitado polvo fagotista e muitas outras
personagens desconcertantes, a peça permite desvendar uma história
de amizade entre um rapaz e a Menina do Mar, apostados em partilhar
aquilo que os distingue e torna únicos: a menina fica a saber o que
é o amor, a saudade e a alegria; o rapaz aceita viver com ela no
fundo do mar.
Unindo a terra e a água numa mesma
pátria de alegria e fluidez, “A Menina do Mar” é o segundo
livro de Sophia de Mello Breyner Andresen, publicado em 1947, após o
volume “Poesia”. Aqui, como de resto em muita da sua obra, a
poeta busca a perfeição, a pureza e a harmonia, utilizando alguns
lugares recorrentes como o mar, a praia, a casa e o jardim. Visitando
a infância, onde aprendeu a ouvir as vozes das coisas, o mar é aqui
uma fonte de purificação e um lugar onde tudo adquire sentido. Pode
ser esta uma história para crianças mas a mensagem serve
principalmente para as pessoas mais crescidas capazes de entender que
não devem desistir dos seus sonhos à primeira dificuldade. Que o
Teatro do Eléctrico tenha querido associar-se ao momento tão
especial do centenário do nascimento de Sophia e tenha sabido, com
esta peça, respeitar o sentido da obra, valorizando-a com o gesto e
enriquecendo-a com a música, é algo que muito se louva.
[Foto: mundoportugues.pt/]
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