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terça-feira, 5 de novembro de 2019

CONCERTO: Sérgio Godinho



CONCERTO: Sérgio Godinho
Casa da Criatividade
12 Out 2019 | sab | 22:00


“Eu não sei nem de escuros nem de auroras”. Foi com estas palavras que Sérgio Godinho abriu as hostilidades no regresso a uma casa que conhece bem e que se encheu de um público entusiástico para o receber, aplaudir e com ele celebrar a música e a palavra. Com quase cinquenta anos de carreira, o cantautor trouxe a S. João da Madeira “Nação Valente”, o seu 18º álbum de originais, ao qual fez questão de juntar uma ampla “Liberdade”, conjunto de canções, umas mais antigas que outras – “a ordem não sendo importante”, disse –, todas elas icónicas, como icónica é a sua obra. Esta mescla entre o novo e o “menos novo” é, aliás, um dos aspectos mais marcantes dos seus concertos, já que evidencia a enorme coerência, homogeneidade e qualidade de todo um trabalho ao serviço da música e da poesia.

Em “Noite e Dia”, de onde extraí o verso com que se inicia este texto, é impossível não sentir a mesma força de “Que Força é Essa?”, tal como é impossível não perceber em “Grão da Mesma Mó” a mesma intensidade de “Maré Alta” ou em “Mariana Pais, 21 Anos” a mesma doçura de “Paula”, todas estas canções separadas entre si por... 48 anos. E foi nesta toada, entre a esperança e as certezas, que o concerto decorreu, a sala mais sossegada em temas como “Artesanato” ou “Tipo Contrafacção”, em modo extático perante uma “Etelvina” ou “Balada da Rita”, frenética no ritmado “Coro das Velhas” ou no renovado “Espectáculo” ou completamente rendida, já no “encore”, cantando em coro “Com Um Brilhozinho Nos Olhos”, “O Primeiro Dia” ou esse imortal “Liberdade” - “a paz, o pão, habitação, saúde, educação” gritados, em “estado de emergência”.

Num concerto sempre vibrante, feito de detalhes de vida a ligar passado e presente, entre “rapazes de camisola verde”, a “jogar ao boxe” ou a “tocar bateria”, Sérgio Godinho não esqueceu o drama dos refugiados em “Dancemos no Mundo”, tal como não deixou de ironizar com a alta política em “Benvindo Sr. Presidente”. E porque “o Zeca não poderia faltar nesta noite”, do enorme Zeca Afonso escutámos “Os Vampiros”. Restará dizer que acompanharam o cantor em palco os “eternos”, extraordinários, João Cardoso (teclados, coros), Sérgio Nascimento (bateria), Nuno Espírito Santo (baixo, coros), Miguel Fevereiro (guitarras, percussão, coros) e Nuno “Rafa” Rafael (direcção musical, guitarras coros). “Hoje soube-me a pouco”, claro que sim. Mas é sempre um até já!

[Foto: Patrice Almeida | facebook.com/casadacriatividade/]

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