CONCERTO: Sérgio
Godinho
Casa da
Criatividade
12 Out 2019 | sab
| 22:00
“Eu
não sei nem de escuros nem de auroras”. Foi com estas palavras que
Sérgio Godinho abriu as hostilidades no regresso a uma casa que
conhece bem e que se encheu de um público entusiástico para o
receber, aplaudir e com ele celebrar a música e a palavra. Com quase
cinquenta anos de carreira, o cantautor trouxe a S. João da Madeira
“Nação Valente”, o seu 18º álbum de originais, ao qual fez
questão de juntar uma ampla “Liberdade”, conjunto de canções,
umas mais antigas que outras – “a ordem não sendo importante”,
disse –, todas elas icónicas, como icónica é a sua obra. Esta
mescla entre o novo e o “menos novo” é, aliás, um dos aspectos
mais marcantes dos seus concertos, já que evidencia a enorme
coerência, homogeneidade e qualidade de todo um trabalho ao serviço
da música e da poesia.
Em “Noite e
Dia”, de onde extraí o verso com que se inicia este texto, é
impossível não sentir a mesma força de “Que Força é Essa?”,
tal como é impossível não perceber em “Grão da Mesma Mó” a
mesma intensidade de “Maré Alta” ou em “Mariana Pais, 21 Anos”
a mesma doçura de “Paula”, todas estas canções separadas entre
si por... 48 anos. E foi nesta toada, entre a esperança e as
certezas, que o concerto decorreu, a sala mais sossegada em temas
como “Artesanato” ou “Tipo Contrafacção”, em modo extático
perante uma “Etelvina” ou “Balada da Rita”, frenética no
ritmado “Coro das Velhas” ou no renovado “Espectáculo” ou
completamente rendida, já no “encore”, cantando em coro “Com
Um Brilhozinho Nos Olhos”, “O Primeiro Dia” ou esse imortal
“Liberdade” - “a paz, o pão, habitação, saúde, educação”
gritados, em “estado de emergência”.
Num concerto
sempre vibrante, feito de detalhes de vida a ligar passado e
presente, entre “rapazes de camisola verde”, a “jogar ao boxe”
ou a “tocar bateria”, Sérgio Godinho não esqueceu o drama dos
refugiados em “Dancemos no Mundo”, tal como não deixou de
ironizar com a alta política em “Benvindo Sr. Presidente”. E
porque “o Zeca não poderia faltar nesta noite”, do enorme Zeca
Afonso escutámos “Os Vampiros”. Restará dizer que acompanharam
o cantor em palco os “eternos”, extraordinários, João Cardoso
(teclados, coros), Sérgio Nascimento (bateria), Nuno Espírito Santo
(baixo, coros), Miguel Fevereiro (guitarras, percussão, coros) e
Nuno “Rafa” Rafael (direcção musical, guitarras coros). “Hoje
soube-me a pouco”, claro que sim. Mas é sempre um até já!
[Foto: Patrice
Almeida | facebook.com/casadacriatividade/]
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