CONCERTO: Joe Lovano Tapestry Trio
com Marilyn Crispell e Carmen Castaldi
Guimarães Jazz 2019
Centro Cultural Vila Flor, Grande
Auditório
13 Nov 2019 | qua | 21:30
Depois de Charles Lloyd ter colocada a
fasquia a uma altura incrível logo na abertura desta edição do
Festival de Jazz de Guimarães, foi com enorme expectativa que
assistimos ao concerto de Joe Lovano. A sua presença em palco,
porém, acabaria por se revelar fracassada, sobretudo porque a música
que Lovano nos trouxe, ainda que rica em texturas rítmicas, revelou
uma dimensão demasiado livre, com reflexos negativos particularmente
na consistência harmónica e melódica de alguns temas, bem como na
coerência dum alinhamento que acabou por misturar preciosas pérolas
com um experimentalismo de gosto duvidoso.
Com Marilyn Crispell no piano e Carmen
Castaldi na bateria, este Trio Tapestry – que é também o título
do álbum editado em Janeiro deste ano pela editora ECM – só a
espaços conseguiu fazer passar a mensagem de uma “música
introspetiva e contemplativa, desinteressada de ambições
virtuosísticas, desligada de pretensões de inovação, focada
sobretudo na expressão da beleza e comprometida apenas com o
propósito da partilha e da congregação dos espíritos”. E se é
verdade que “Rare Beauty”, “Tarrassa” ou “Night Creatures”
poderiam facilmente suportar a carta de intenções do trio, temas
como “Gong Episode” ou “Dream and That” acabam por deitar
tudo a perder.
Há, todavia, um aspecto de enorme
relevância neste concerto e que importa realçar pela positiva. Falo
de Marilyn Crispell e da forma como brilha neste trio. Carregando
sobre si a tarefa de alimentar o diálogo com o saxofone e, a
espaços, com a bateria (ou com os dois), a pianista cota-se como a
figura central do agrupamento, chamando a si o grosso das atenções.
É inegável o virtuosismo de Joe Lovano, como é de louvar a forma
“sussurrada” como Carmen Cristaldi faz ouvir a sua bateria.
Crispell, contudo, destaca-se na sua forma de entender a música e de
a mostrar, o que permite uma constatação óbvia: Fui a Guimarães
para ouvir Lovano, mas foi Marilyn Crispell que trouxe comigo. Nos
sentidos e no coração.
[Foto: Centro Cultural Vila Flor |
facebook.com/CCVF.Guimaraes/]
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