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EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Grays
the Mountain Sends”,
de Bryan Schutmaat
Encontros da Imagem de Braga 2019
Museu da Imagem
14 Set > 27 Out 2019
É um belo dia de sol. Há flores que
brotam nos jardins e crianças sorridentes a caminho da escola: em
suma, um dia normal num mundo perfeito. Mas a tranquilidade
inviolável deste mundo está prestes a ser abalada. Uma mangueira
torcida vê o seu fluxo de água interrompido, ao mesmo tempo que um
velho, regando o jardim, sofre um colapso cardíaco. Penetrando
através do verdejante relvado, a câmera leva-nos ao encontro de um
novo e feio mundo, povoado de criaturas monstruosas. Na verdade, o
interior de um formigueiro. As passagens acima descrevem as imagens
de abertura de “Veludo Azul”, filme no qual o cineasta David
Lynch – conhecido pelo seu olhar crítico sobre o “american way
of life” – sugere metaforicamente o quanto de sujidade se acumula
sob um tapete aparentemente limpo. No caso, o tapete é justamente a
sociedade norte-americana.
Ao apreciar o extraordinário conjunto
de imagens belíssimas que Bryam Schutmaat trouxe à 29ª edição
dos Encontros da Imagem, não consegui deixar de pensar em “Blue
Velvet” e no quanto a tranquilidade dos rostos e das paisagens
deste “Grays the Mountain Sends” pode ocultar. Combinando
retratos, paisagens e natureza morta numa série de fotos que
exploram a vida de pessoas que trabalham em pequenas cidades de
montanha e de comunidades de exploração de minas no Mid West
americano, este corpo de trabalho revela-nos o olhar meditativo do
fotógrafo sobre a vida da pequena cidade, da paisagem sobre a qual
se ergue e, mais importante, das paisagens interiores dos homens
comuns.
Equipado com uma câmera de grande
formato e inspirado na poesia de Richard Hugo, Brian Schutmaat
explora uma multitude de narrativas possíveis nestes verdadeiros
microcosmos sociais, procurando transmitir as experiências de
estranhos, reunidos em cenários, que servem de estímulo,
primordialmente, às suas próprias emoções. Mais do que um
conjunto de imagens, o que perpassa para o espectador é muito mais
um poema. Há uma batida e um ritmo no trabalho de Schutmaat que nos
embala nos acordes da musica country enquanto passamos o olhar pelas
suas fotografias. Mas desenganemo-nos: Nestas comunidades paradas no
tempo, há projectos e sonhos abafados que destilam raiva e
frustração sob o aparentemente calmo manto do quotidiano. Até
quando?
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