CONCERTO: Ricardo Toscano Quartet
Ovar em Jazz 2019
Centro de Artes de Ovar
11 Abr 2019 | qui | 22:00
O quarteto de Ricardo Toscano foi
cabeça de cartaz na primeira noite do Ovar em Jazz 2019. Num espaço
praticamente despido de público, os poucos presentes tiveram a
oportunidade de assistir a um extraordinário momento de jazz, a
genialidade do jovem saxofonista e dos restantes membros deste
quarteto fenomenal – João Pedro Coelho no piano, Romeu Tristão no
contrabaixo e João Lopes Pereira na bateria – a evidenciar-se em
composições inspiradas e numa capacidade interpretativa onde o
ritmo e a energia se passearam de mãos dadas com o virtuosismo e o
improviso.
Apesar do álbum lançado em finais de
2018, este concerto foi quase uma novidade absoluta. Desde logo
porque o quarteto não se limitou a reproduzir em palco o trabalho de
estúdio, antes fez questão de o vestir de novas roupagens. Mantendo
bem lá no fundo o fraseado original – e isso é bem patente
naquele “fado bailado” que abre o incrível tema que é “Almería”, nas paisagens urbanas de “Lament” ou nas sonoridades de “Grito Mudo”, o voo nas asas do saxofone de
Ricardo Toscano a levar-nos à Flórida, ao cenário de “Noites
Escaldantes” e a uma Kathleen Turner como nunca se viu -, o
agrupamento aplicou-se na reinvenção dos temas e nas suas
variações, provando a enorme versatilidade da sua música e
exibindo um gozo único na forma como os instrumentos dialogam entre
si ou se pronunciam a solo.
O alinhamento do concerto privilegiou
ainda alguns dos grandes nomes do Jazz e que são referências do
quarteto, com Coltrane à cabeça, de quem se ouviu “The Promise”,
o tema que colocou um ponto final neste noite memorável. Tempo
também para escutar Tony Williams e o seu “Hand Jive”, um tema
que Miles Davis elevou ao panteão dos imortais, bem como “Stardust”,
de Hoagy Carmichael (1927), que todos reconhecemos no trompete de
Louis Armstrong ou na voz de Nat King Cole. Provando que não sabe
estar parado, Ricardo Toscano trouxe-nos ainda dois trabalhos
geniais, assinados por si, e que não têm ainda nome, mas irão ter,
seguramente, quando – assim o esperamos – figurarem num próximo
trabalho que já se aguarda com ansiedade.
Num gesto de enorme delicadeza, Ricardo
Toscano inscreveu algumas palavras na capa do álbum que lhe pedi
para autografar. Aí se lê que “isto agora só pode melhorar!”.
Não sei se se referia ao Ovar em Jazz e a um processo de crescimento
natural que todos os festivais de jazz conhecem, ou se ao seu
trabalho, aos seus projectos, anseios e ambição. O menos que se
pode dizer, porém, é que a fasquia está muito alta em ambos os
casos. Se por um lado a programação do Ovar em Jazz é preciosa,
por outro a música de Ricardo Toscano é do melhor que alguma vez se
fez no género em Portugal. Só o público teima em não aparecer,
frustrando as expectativas de programadores e de músicos. E não
tenho a certeza de que, neste particular aspecto, isto possa algum
dia melhorar!
[Fotos: facebook.com/ovarcultura/]
I wish I could have been there. The Ricardo Toscano Quartet play such Heavenly music, absolutely to die for !
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