CIRCO CONTEMPORÂNEO: “Lähtö”
Direcção | Kalle Nio
Coreografia | Vera Selene Tegelman,
Kalle Nio
Interpretação | Kalle Nio, Vera
Selene Tegelman
Guarda-Roupa | Mila Moisio, Kaisa
Rissanen
Música e Desenho de Som | Samuli
Kosminen
Desenho de Luz | Jere Mönkkönen
Video | Matias Boettge, Kalle Nio
Produção | WHS
Centro de Artes de Ovar
29 Mar 2019 | sex | 22:00
Pelo segundo ano consecutivo, o circo
contemporâneo sobe ao palco do Centro de Artes de Ovar para três
sessões onde expressão corporal e ambientes mágicos se combinam
com ilusão e divertimento. A estreia deste novo ciclo teve lugar na
passada sexta feira com o espectáculo “Lähtö”, protagonizado
pela companhia finlandesa WHS. Estreada na primavera de 2013 e alvo
da aclamação generalizada da crítica, tanto no seu país como
além-fronteiras, a peça inspira-se no trabalho das ilusões de
palco dos mágicos do século XIX e decorre numa atmosfera
misteriosa, feita de sons ribombantes e de projecções oníricas,
onde o real e o aparente se misturam e confundem.
Um homem e uma mulher sentam-se
frente-a-frente a uma mesa. Comem com o olhar em baixo, o homem
percutindo o prato com o garfo, a mulher servindo-se de vinho e
erguendo o copo num brinde. Sem que nada o faça prever, o homem
arremessa um molho de chaves para cima da mesa, provocando a fúria
da mulher que se levanta e se acerca de uma janela de onde se avista
o mar. O homem pega numa gabardina e faz menção de sair, mas acaba
por voltar à mesa, tal como a mulher. A sequência repete-se três
vezes, por três vezes os mesmos gestos, os mesmos sons, num
exercício perfeito de sincronia. Até que os gestos deixam de
acompanhar os sons, homem e mulher libertos da rotina das
suas vidas, que não dos seus sentimentos interiores, dos laços por
romper numa relação complexa.
Sem acrobacias nem malabarismos, mas
com toda a magia do circo, “Lähtö” oferece-nos um olhar
insólito sobre um quotidiano conturbado, a história desta relação
contada em fragmentos dispersos nas ondas dum mar revolto. Fazendo do
movimento a expressão narrativa da peça, Kalle Nio e Vera Selene
Tegelman têm desempenhos notáveis na apresentação dos distintos
estados emocionais da sua tormentosa relação. O resto é pura
magia, as roupas que adquirem vida própria, os corpos em equilíbrio
sobre uma jangada por detrás duma cortina de chuva intensa, um cubo
onde o par se vê reflectido em múltiplas facetas ou as cortinas a
derreter e o cenário a desfazer-se na derradeira cena. Realidade ou
miragem, pouco importa. O resultado, esse, é genial!
[Foto: facebook.com/ovarcultura/]
Sem comentários:
Enviar um comentário