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terça-feira, 2 de abril de 2019

CIRCO CONTEMPORÂNEO: "Lähtö"



CIRCO CONTEMPORÂNEO: “Lähtö”
Direcção | Kalle Nio
Coreografia | Vera Selene Tegelman, Kalle Nio
Interpretação | Kalle Nio, Vera Selene Tegelman
Guarda-Roupa | Mila Moisio, Kaisa Rissanen
Música e Desenho de Som | Samuli Kosminen
Desenho de Luz | Jere Mönkkönen
Video | Matias Boettge, Kalle Nio
Produção | WHS
Centro de Artes de Ovar
29 Mar 2019 | sex | 22:00


Pelo segundo ano consecutivo, o circo contemporâneo sobe ao palco do Centro de Artes de Ovar para três sessões onde expressão corporal e ambientes mágicos se combinam com ilusão e divertimento. A estreia deste novo ciclo teve lugar na passada sexta feira com o espectáculo “Lähtö”, protagonizado pela companhia finlandesa WHS. Estreada na primavera de 2013 e alvo da aclamação generalizada da crítica, tanto no seu país como além-fronteiras, a peça inspira-se no trabalho das ilusões de palco dos mágicos do século XIX e decorre numa atmosfera misteriosa, feita de sons ribombantes e de projecções oníricas, onde o real e o aparente se misturam e confundem.

Um homem e uma mulher sentam-se frente-a-frente a uma mesa. Comem com o olhar em baixo, o homem percutindo o prato com o garfo, a mulher servindo-se de vinho e erguendo o copo num brinde. Sem que nada o faça prever, o homem arremessa um molho de chaves para cima da mesa, provocando a fúria da mulher que se levanta e se acerca de uma janela de onde se avista o mar. O homem pega numa gabardina e faz menção de sair, mas acaba por voltar à mesa, tal como a mulher. A sequência repete-se três vezes, por três vezes os mesmos gestos, os mesmos sons, num exercício perfeito de sincronia. Até que os gestos deixam de acompanhar os sons, homem e mulher libertos da rotina das suas vidas, que não dos seus sentimentos interiores, dos laços por romper numa relação complexa.

Sem acrobacias nem malabarismos, mas com toda a magia do circo, “Lähtö” oferece-nos um olhar insólito sobre um quotidiano conturbado, a história desta relação contada em fragmentos dispersos nas ondas dum mar revolto. Fazendo do movimento a expressão narrativa da peça, Kalle Nio e Vera Selene Tegelman têm desempenhos notáveis na apresentação dos distintos estados emocionais da sua tormentosa relação. O resto é pura magia, as roupas que adquirem vida própria, os corpos em equilíbrio sobre uma jangada por detrás duma cortina de chuva intensa, um cubo onde o par se vê reflectido em múltiplas facetas ou as cortinas a derreter e o cenário a desfazer-se na derradeira cena. Realidade ou miragem, pouco importa. O resultado, esse, é genial!

[Foto: facebook.com/ovarcultura/]

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