CINEMA: “Chuva é Cantoria na
Aldeia dos Mortos”
Realização | João Salaviza, Renée
Nader Messora
Argumento | João Salaviza, Renée
Nader Messora
Fotografia | Renée Nader Messora
Montagem | José Edgar Feldman, João
Salaviza, Renée Nader Messora
Interpretação | Henrique Ihjãc
Krahô, Raene Kôtô Krahô
Produção | Ricardo Alves Jr.,
Thiago Macêdo Correia
Portugal, Brasil | 2018 | Drama |
114 minutos | M/12
UCI Arrábida 20 | Sala 8
01 Abr 2019 | seg | 19:05
Perseguindo um sonho que o atormenta há
já algum tempo, Henrique Ihjãc Krahô deixa a aldeia a meio da
noite e dirige-se à cascata onde sabe que o aguarda o espírito do
pai. A mensagem do defunto é clara: pretende que a sua família
organize o banquete funerário, dando por finalizado o luto e
libertando o espírito para seguir o seu caminho rumo à aldeia dos
mortos. Não se sentindo preparado para abandonar tão cedo a memória
do pai, Ihjãc resiste ao pedido. Acima de tudo, não quer partilhar
este encontro com o resto da aldeia, uma vez que isso seria
reconhecer que se tornou num xamã, capaz de comunicar com o mundo
dos mortos. Tomado por um enorme conflito interior, o homem adoece e
decide abandonar a sua família, escondendo-se na cidade até que o
seu espírito-guia o esqueça.
Embora o pareça, “Chuva é Cantoria
na Aldeia dos Mortos” não é um documentário. O filme retrata a
vida de Ihjãc e da sua família em Pedras Brancas de forma
naturalista, dando a ver um mundo onde as tradições ancestrais
permanecem vivas e funcionam como sustentáculo indispensável à
vida da comunidade Krahô. É só quando Ihjãc chega à cidade que a
miséria se apodera de si, ao ver-se rejeitado por uma sociedade
preconceituosa e xenófoba. A mensagem torna-se bastante explícita,
os índios desejando apenas que sejam deixados em paz.
A narrativa desenvolve-se sem grandes
rodeios, explicando com naturalidade o modo de vida Krahô, assente
mais na partilha e menos naquilo que possam receber. Conversam, falam
dos seus problemas e traçam objectivos de acordo com os seus
próprios preceitos. Tudo isto com a câmera introduzida de forma
familiar, sem guardar distâncias, sem espiar. “Chuva é Cantoria
na Aldeia dos Mortos” não nos traz nada de verdadeiramente
original, mas o retrato que faz desta comunidade e dos seus traços
identitários é de tal forma sincera e sensível que fazem deste um
filme de visão obrigatória!
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