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quinta-feira, 21 de março de 2019

CONCERTO: "Children of the Light" Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e Terry Lyne Carrington



CONCERTO: “Children of the Light”
Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e Terry Lyne Carrington
Casa da Música
10 Mar 2019 | dom | 21:00


Quando, em Abril passado, se apresentaram no Centro de Artes de Ovar para um concerto integrado na auspiciosa primeira edição do “Ovar em Jazz”, Danilo Pérez, John Patitucci e Brian Blade proporcionaram aos presentes momentos inolvidáveis do melhor jazz que alguma vez se fez. Na altura escrevi aqui no Blogue ter sido esta uma experiência absolutamente gloriosa, fenomenal, única, o espectador convidado a permanecer “no domínio da visão e do sonho, numa dimensão fluida de gravidade zero”. No final do ano, haveria mesmo de eleger este como o melhor de entre os mais de sessenta concertos a que assisti em 2018.

Com redobrada alegria e uma enorme expectativa, dirigi os meus passos para a Casa da Música, para nova apresentação do projecto “Children of the Light” (que dá nome ao álbum publicado em 2015), agora com Terry Lyne Carrington no lugar de Brian Blade. E de novo, a magia do jazz a derramar-se em toda a sua dimensão. O tema das crianças irá surgir a espaços, quer na carga lúdica que acompanha o tema que dá nome ao concerto, quer, de forma explícita, em “Sunborn and Mosquito”, dedicado a Carolina, uma das filhas de Pérez. Mas foi a luz que atravessou todo o concerto e se impôs em composições como “Light Echo / Dolores”, “Milky Way” (“Via Láctea”), “Looking for Light” ou “Lumen”, o tema que encerrou o concerto. Uma luz que ora se derramou de forma abrupta, intensa e ofuscante, ora se ofereceu suave e doce, em notas tranquilas, acentuando a felicidade do momento.

Aquilo que, porventura, mais impressiona nestes três enormes músicos é a sua cumplicidade e hegemonia, a sua enorme coesão e audácia. Mesmo nos momentos em que cada um coloca o seu talento ao serviço do conjunto, é possível perceber de que forma a sua identidade musical, a sua marca distintiva permanece intacta – fechar os olhos e isolar um instrumento dos restantes constitui, em “Children of the Light”, um exercício deveras inspirador. Ora lineares, verdes prados de formas suaves e flores delicadas, ora complexas, vertiginosos precipícios ou gargantas abruptas por onde correm torrentes caudalosas, as composições do trio são meios de representação, as suas músicas pintam cenários, os sons que produzem contam histórias. Composição ou improviso, é como uma explosão rítmica que marca o bater do próprio coração. É o jazz na sua dimensão orgânica. É vida que se desprende de cada nota.

[Foto: Anna Webber / imnworld.com]

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