CONCERTO: “Children of the Light”
Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e
Terry Lyne Carrington
Casa da Música
10 Mar 2019 | dom | 21:00
Quando, em Abril passado, se
apresentaram no Centro de Artes de Ovar para um concerto integrado na auspiciosa primeira edição do “Ovar em Jazz”, Danilo Pérez, John Patitucci e Brian
Blade proporcionaram aos presentes momentos inolvidáveis do melhor
jazz que alguma vez se fez. Na altura escrevi aqui no Blogue ter sido esta uma experiência absolutamente gloriosa, fenomenal,
única, o espectador convidado a permanecer “no domínio da visão
e do sonho, numa dimensão fluida de gravidade zero”. No final do
ano, haveria mesmo de eleger este como o melhor de entre os mais de
sessenta concertos a que assisti em 2018.
Com redobrada alegria e uma enorme
expectativa, dirigi os meus passos para a Casa da Música, para nova
apresentação do projecto “Children of the Light” (que dá nome
ao álbum publicado em 2015), agora com Terry Lyne Carrington no
lugar de Brian Blade. E de novo, a magia do jazz a derramar-se em
toda a sua dimensão. O tema das crianças irá surgir a espaços,
quer na carga lúdica que acompanha o tema que dá nome ao concerto,
quer, de forma explícita, em “Sunborn and Mosquito”, dedicado a
Carolina, uma das filhas de Pérez. Mas foi a luz que atravessou todo
o concerto e se impôs em composições como “Light Echo /
Dolores”, “Milky Way” (“Via Láctea”), “Looking for
Light” ou “Lumen”, o tema que encerrou o concerto. Uma luz que
ora se derramou de forma abrupta, intensa e ofuscante, ora se
ofereceu suave e doce, em notas tranquilas, acentuando a felicidade
do momento.
Aquilo que, porventura, mais
impressiona nestes três enormes músicos é a sua cumplicidade e
hegemonia, a sua enorme coesão e audácia. Mesmo nos momentos em que
cada um coloca o seu talento ao serviço do conjunto, é possível
perceber de que forma a sua identidade musical, a sua marca
distintiva permanece intacta – fechar os olhos e isolar um
instrumento dos restantes constitui, em “Children of the Light”,
um exercício deveras inspirador. Ora lineares, verdes prados de
formas suaves e flores delicadas, ora complexas, vertiginosos
precipícios ou gargantas abruptas por onde correm torrentes
caudalosas, as composições do trio são meios de representação,
as suas músicas pintam cenários, os sons que produzem contam
histórias. Composição ou improviso, é como uma explosão rítmica
que marca o bater do próprio coração. É o jazz na sua dimensão
orgânica. É vida que se desprende de cada nota.
[Foto: Anna Webber / imnworld.com]
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