CINEMA: “Na Fronteira” / “Gräns”
Realização: Ali Abbasi
Argumento | John Ajvide Lindqvist,
Ali Abbasi, Isabella Eklöf
Fotografia | Nadim Carlsen
Montagem | Olivia Neergaard-Holm,
Anders Skov
Interpretação | Eva Melander, Eero
Milonoff, Jörgen Thorsson, Ann Petrén, Sten Ljunggren, Kjell
Wilhelmsen, Rakel Wärmländer
Produção | Nina Bisgaard, Piodor
Gustafsson, Petra Jönsson
Suécia, Dinamarca | 2018 | Drama,
Fantasia, Romance, Thriller | 110 minutos | M/12
Cinema Dolce Espaço
21 Mar 2019 | qui | 16:00
Há em Tina algo de extraordinário que
vai além da sua fisionomia grotesca, algo que faz com que esta
mulher se relacione melhor com a natureza e os animais do que com as
pessoas que a rodeiam. É essa espécie de instinto animal que lhe
permite intuir as emoções mais ocultas e descobrir criminosos no
seu trabalho como guarda fronteiriça. Quer se trate de um menor que
tenta passar álcool ou de um bem vestido pedófilo que se revelará
a ponta do novelo de uma rede de pornografia infantil, nada escapa ao
controlo de Tina, pronta a desmascarar os prevaricadores de forma
eficiente e implacável. Quando encontra alguém com traços
idênticos aos seus, porém, o seu mundo começa a desmoronar-se,
a sua verdadeira origem e identidade pouco a pouco reveladas.
Na forma como alterna o tom e os
assuntos, mantendo o espectador atento e interessado ao desenrolar da
história, tem “Na Fronteira” o seu grande trunfo. Deste modo, o
filme consegue um cruzamento interessante entre o romance e a trama
policial a qual, longe de ser anedótica, lhe confere as ferramentas
necessárias à caracterização das duas personagens principais. Um
romance que nada tem a ver com uma certa superficialidade clássica
do género, antes se abre em toda a sua complexidade já que o
vínculo entre ambos se funda nas raízes da identidade de cada um e
nas suas visões do mundo. Se Tina se sente atraída por Vore é
porque finalmente encontrou alguém que a trata como uma igual e que
lhe mostra que ser diferente não é uma aberração.
À medida que vai construindo a
personagem de Tina, Ali Abbasi questiona vários conceitos adoptados
pela sociedade como naturais, dos estereótipos da beleza ao
romantismo vinculado a uma relação ou ao direito de responder aos
abusos recebidos de forma violenta ou cruel. Tudo isto inserido num
contexto subtilmente fantástico, que reinventa uma parte da cultura
e das tradições regionais, adequando-as a um ambiente
contemporâneo. Pena é que o realizador acabe enredado na teia que
ele próprio criou, caindo aos poucos na banalidade e terminando em
queda livre, a previsibilidade a tomar conta dum final absolutamente
confrangedor. Incapaz do golpe de asa que elevasse “Na Fronteira”
ao panteão dos filmes de culto – e andou lá perto! -, Abbasi
oferece-nos um filme pela metade, com tanto de bom como de imbecil.
Eva Melander não merecia isto!
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