CONCERTO: “Children of the Light”
Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e Brian Blade
Centro de Arte de Ovar
21 Abr 2018 | sab | 22:00
Danilo Pérez, John Patitucci e Brian
Blade foram, durante mais de uma década, elos fundamentais dum
quarteto que teve em Wayne Shorter a sua figura de proa. Juntos,
gravaram para as míticas Verve e Blue Note, percorreram palcos de
todo o mundo, conquistaram adeptos para a sua música e encantaram
com o seu sentido rítmico, a sua deliciosa capacidade de improvisão,
a sua mestria interpretativa única. Desmantelado o agrupamento,
Pérez, Patitucci e Blade prosseguiram as suas carreiras individuais
como líderes dos próprios projectos e grupos, mas não quiseram
perder a possibilidade do reencontro em palco, reforçando uma enorme
amizade e cumplicidade. E eis que, em 2015, gravaram para a Mack
Avenue Records “Children of the Light”, álbum dedicado ao seu
mentor e guia musical e que encerra uma oração carregada de
esperança na inocência das crianças e um desejo implícito de que
a luz volte a iluminar o mundo, devolvendo a paz a uma humanidade que
dela parece ter-se desencontrado.
Foi precisamente com “Children of the
Light” que, no penúltimo dia do novíssimo Ovar em Jazz, o trio
subiu ao palco do Centro de Arte de Ovar para um concerto
absolutamente glorioso, fenomenal, único. O tema das crianças irá
surgir a espaços, quer na carga lúdica que acompanha o tema que dá
nome ao concerto, quer, de forma explícita, em “Sunborn and
Mosquito”, dedicado a Carolina, uma das filhas de Pérez. Mas foi a
luz que atravessou todo o concerto e se impôs em composições como
“Moonlight on Congo Square”, “Lumen”, “Light Echo /
Dolores”, “Milky Way” (“Via Láctea”), “Looking for
Light” ou “Luz del Alma”. Uma luz que ora se derramou de forma
abrupta, intensa e ofuscante, ora se ofereceu suave e doce, em notas
tranquilas, acentuando a felicidade do momento.
Aquilo que, porventura, mais
impressionou o público presente – cujo número se quedou bastante
aquém da lotação da sala – terá sido o equilibrio e
homegeneidade do trio, a sua enorme coesão e audácia. Mesmo nos
momentos em que cada um coloca o seu talento ao serviço do conjunto,
é possível perceber de que forma a sua identidade musical, a sua
marca distintiva permanece intacta – fechar os olhos e isolar um
instrumento dos restantes constitui, em “Children of the Light”,
um exercício deveras inspirador. Ora lineares, verdes prados de
formas suaves e flores delicadas, ora complexas, vertiginosos
precipícios ou gargantas abruptas por onde correm torrentes
caudalosas, as composições do trio são meios de representação,
as suas músicas pintam cenários, os sons que produzem contam
histórias. É neste domínio da visão e do sonho, numa dimensão
fluida de gravidade zero, que o espectador é convidado a permanecer.
Aquilo que o espera está para além do definível. É único e
espontâneo. Composição ou improviso, é como uma explosão ritmíca
que marca o bater do próprio coração. É o Jazz na sua dimensão
orgânica. É vida que se desprende de cada nota!
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