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domingo, 22 de abril de 2018

CONCERTO: “Children of the Light” Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e Brian Blade



CONCERTO: “Children of the Light” Ft. Danilo Pérez, John Patitucci e Brian Blade
Centro de Arte de Ovar
21 Abr 2018 | sab | 22:00


Danilo Pérez, John Patitucci e Brian Blade foram, durante mais de uma década, elos fundamentais dum quarteto que teve em Wayne Shorter a sua figura de proa. Juntos, gravaram para as míticas Verve e Blue Note, percorreram palcos de todo o mundo, conquistaram adeptos para a sua música e encantaram com o seu sentido rítmico, a sua deliciosa capacidade de improvisão, a sua mestria interpretativa única. Desmantelado o agrupamento, Pérez, Patitucci e Blade prosseguiram as suas carreiras individuais como líderes dos próprios projectos e grupos, mas não quiseram perder a possibilidade do reencontro em palco, reforçando uma enorme amizade e cumplicidade. E eis que, em 2015, gravaram para a Mack Avenue Records “Children of the Light”, álbum dedicado ao seu mentor e guia musical e que encerra uma oração carregada de esperança na inocência das crianças e um desejo implícito de que a luz volte a iluminar o mundo, devolvendo a paz a uma humanidade que dela parece ter-se desencontrado.

Foi precisamente com “Children of the Light” que, no penúltimo dia do novíssimo Ovar em Jazz, o trio subiu ao palco do Centro de Arte de Ovar para um concerto absolutamente glorioso, fenomenal, único. O tema das crianças irá surgir a espaços, quer na carga lúdica que acompanha o tema que dá nome ao concerto, quer, de forma explícita, em “Sunborn and Mosquito”, dedicado a Carolina, uma das filhas de Pérez. Mas foi a luz que atravessou todo o concerto e se impôs em composições como “Moonlight on Congo Square”, “Lumen”, “Light Echo / Dolores”, “Milky Way” (“Via Láctea”), “Looking for Light” ou “Luz del Alma”. Uma luz que ora se derramou de forma abrupta, intensa e ofuscante, ora se ofereceu suave e doce, em notas tranquilas, acentuando a felicidade do momento.

Aquilo que, porventura, mais impressionou o público presente – cujo número se quedou bastante aquém da lotação da sala – terá sido o equilibrio e homegeneidade do trio, a sua enorme coesão e audácia. Mesmo nos momentos em que cada um coloca o seu talento ao serviço do conjunto, é possível perceber de que forma a sua identidade musical, a sua marca distintiva permanece intacta – fechar os olhos e isolar um instrumento dos restantes constitui, em “Children of the Light”, um exercício deveras inspirador. Ora lineares, verdes prados de formas suaves e flores delicadas, ora complexas, vertiginosos precipícios ou gargantas abruptas por onde correm torrentes caudalosas, as composições do trio são meios de representação, as suas músicas pintam cenários, os sons que produzem contam histórias. É neste domínio da visão e do sonho, numa dimensão fluida de gravidade zero, que o espectador é convidado a permanecer. Aquilo que o espera está para além do definível. É único e espontâneo. Composição ou improviso, é como uma explosão ritmíca que marca o bater do próprio coração. É o Jazz na sua dimensão orgânica. É vida que se desprende de cada nota!

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