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domingo, 22 de abril de 2018

WORKSHOP DE PINTURA: "Entre a Síntese e o Detalhe"



WORKSHOP DE PINTURA: “Entre a Síntese e o Detalhe”,
de Rodrigo Costa
Museu de Ovar
21 Abr 2018 | sab | 15:00


Inaugurada no passado dia 14 de Abril, a exposição de pintura “Entre a Síntese e o Detalhe”, de Rodrigo Costa, não se esgota nas dezasseis belíssimas composições patentes ao público no Museu de Ovar e sobre as quais procurarei pronunciar-me em breve aqui no Blogue. O programa inclui, ainda, uma conversa com o artista, que terá lugar na tarde do próximo sábado, dia 28 de Abril, para além dum workshop de pintura que decorreu na tarde de ontem e que chamou à Sala dos Fundadores do Museu de Ovar um numeroso grupo de amigos ou simples admiradores do pintor, para três horas de partilha de experiências, conhecimento e deleite. Tendo por tema “Medeia”, a tragédia grega de Eurípedes, e contando com a actriz Aurora Gaia a servir de modelo, o workshop teve um particular enfoque na parte emocional da pintura enquanto forma de expressão, na sua vertente essencialmente subjectiva, acabando por se revelar, desse ponto de vista, inusitadamente intenso, ao mesmo tempo perturbador e fascinante.

Rodrigo Costa começou por evidenciar a importância do dramatismo do objecto artístico e a forma como isso é determinante para o envolvimento do artista com a sua obra. Pintar é todo um processo profundamente íntimo – toda uma “paixão”, nas palavras do artista – que tem o seu início quando se escolhe o tema e cujo desenvolvimento decorre à margem da vontade consciente. “Tenho de me guiar por aquilo que me vem de dentro”, confessa o artista, a voz embargada pela emoção. Desde o esqueleto, traçado a aguarela em pinceladas rápidas e decididas, até aos detalhes finais, com o pastel a ser a opção para vincar a força das formas e da cor, Rodrigo Costa mostra o quanto a pintura é um trabalho complexo, fonte de dor e prazer, ditado pela razão mas, sobretudo, pelo coração. Ainda que suportado em princípios minimamente concertados, é um processo conduzido por cada pincelada, um trajecto eminentemente emocional. O público sente isso e mostra-o com um silêncio quase reverencial.

O olhar recai sobre o papel e, paulatinamente, o desenho vai adquirindo definição. O espectador vê a aguarela fluir e percebe como que uma espécie de fuga à identificação dos detalhes. A preocupação deixou de ser o modelo para recair agora sobre a própria identidade do artista, o seu grafismo. As ideias surgem a uma velocidade alucinante, são demasiadas as dúvidas para tão poucas certezas. O pintor angustia-se, debate-se. É fundamental ouvir-se, escutar-se a si próprio, sentir a cada momento quando é que pode avançar, como é que pode avançar. E é isso que irá fazer. As palavras não são mais dirigidas ao público, de quem o artista se alheou. Recolhido sobre si mesmo, ensaia um solilóquio no qual se intuem respostas. Os sussurros são audíveis, o sentido das palavras escapa ao entendimento - “dão-me estas pancadas...”, “ok, ok, óptimo...”, “talvez o diabo nunca tenha estado num cenário destes...”. O gesto alarga-se. Há desespero e há fúria. Aquela personagem irrequieta, que reparte o seu olhar entre a tela e o modelo, que recua dois passos para avaliar o progresso do seu trabalho, que se afoita na escolha da cor ideal, do pincel ideal, que se lança sobre a obra para esbater com o dedo uma mancha de tinta ou para soprar o papel libertando-o do pó que o pastel deixou é, afinal, duas, e não uma pessoa. O Rodrigo Costa racional sabe que não pode contrariar o Rodrigo Costa emocional e deixa-se ir ao sabor dum apelo que passou a dominá-lo.

Não interessa se é ou não é; se não é, passa a ser”. Entre avanços e recuos, a determinação com que ataca a obra mostra que soube escutar o seu íntimo. Há traços e linhas e elementos estruturais que deixaram de ser vistos como incómodos acidentes de percurso e se transformaram em pepitas caídas no sítio certo e que irão ser preservadas. O trabalho está praticamente concluído. Agora o cérebro começa a brincar e surgem coisas que já pouco acrescentam à composição final. Entra-se na fase perigosa, quando o bom é inimigo do óptimo. “Acho que é isso!”, diz com determinação o artista, recuando dois passos e baixando lentamente os braços. Com a sala suspensa, Rodrigo Costa parece saído dum transe quando encara o público. A voz adquiriu a normalidade. Divide o olhar entre a obra e os presentes na sala. “Assim, de repente, para que as pessoas percebam minimamente, acho que a situação está resolvida”, serão as suas palavras finais. Ainda inquieto, a recuperar da emoção, o público aplaude com vigor. “Medeia” desce do seu trono e observa aquilo que é a sua representação. “Que lindo”, exclama, feiticeira tomada pelo feitiço da forma e da cor. Mas a história não acaba aqui!...

1 comentário:

  1. ... Obrigado, Joaquim Margarido, pela presença, pela recolha das imagens, e pelo seu texto objectivo.

    Abraço

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