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domingo, 27 de janeiro de 2019

CONCERTO: Orquestra Filarmonia das Beiras



CONCERTO: Orquestra Filarmonia das Beiras
Concerto Comemorativo de Elevação de Estarreja a Cidade
Direcção | Maestro Cláudio Ferreira
Solista | Angelina Rodrigues (flauta)
Cine-Teatro de Estarreja
26 Jan 2019 | sáb | 21:30


Na passagem dos 14 anos sobre a publicação em Diário da República da Lei nº3/2005, onde se refere que “a Vila de Estarreja, no Município de Estarreja, é elevada à categoria de Cidade”, tomou a Câmara Municipal de Estarreja a iniciativa de assinalar a data com um concerto oferecido à população. Pisando de novo o palco do Cine-Teatro de Estarreja, a Orquestra Filarmonia das Beiras trouxe-nos um programa que incluiu a Abertura de As Bodas de Fígaro, de Wolfgang Amadeus Mozart, o Concerto para Flauta de Jacques Ibert, interpretado pela flautista Angelina Rodrigues, e a Sinfonia nº7 de Ludwig van Beethoven, sob a direcção do maestro Cláudio Ferreira. Uma palavra muito particular para Angelina Rodrigues e Cláudio Ferreira, dois talentos nascidos em Estarreja, com percursos académicos e artísticos brilhantes, como, de resto, ficou bem provado na noite de ontem.

Da Abertura de As Bodas de Fígaro, não haverá muito a dizer. Não correrei o risco de errar ao afirmar que, algures no mundo, pela mesma altura, estaria a ser tocada esta mesma peça, tal é a sua popularidade. E, no entanto, esta como outras peças não fazem grande sentido se tocadas isoladamente. É alegre e divertida, prepara-nos para uma comédia que se abre vibrante e cheia de peripécias, mas no final fica sempre aquela nota de desconsolo por tudo não ter passado de um ténue vislumbre, embora também não seja por aí que virá grande mal ao mundo. O público apreciou claramente, aplaudiu com entusiasmo e preparou-se para escutar o que vinha a seguir. E a seguir veio o Concerto para Flauta de Jacques Ibert, na verdade o momento alto do programa, não apenas pela genialidade duma obra que não é frequente ouvir em sala, como pela forma como a Orquestra – e Angelina Rodrigues, em particular – a soube interpretar. Entre o impressionismo francês e o expressionismo alemão, tendências antagónicas que dominaram a cena musical de inícios do século passado, Ibert coloca a flauta no centro das atenções, conduzindo a obra através de paisagens sonoras vivas de ritmo e fantasia. Angelina Rodrigues teve a audácia de desafiar uma das mais difíceis peças do repertório flautístico, oferecendo um conjunto de poemas musicais profundamente inspirados. O resultado final foi absolutamente brilhante, para glória da solista e para gáudio de uma plateia que não poupou nos aplausos.

Após um breve intervalo, a grande música voltou-se para Ludwig van Beethoven e para a sua Sétima Sinfonia, considerada por vários autores como a melhor sinfonia do génio alemão. Da serena melodia a irromper num esplendor de música do primeiro andamento, à inesperada dança do Presto (terceiro andamento) ou ao virtuosismo quase imperial do último andamento, é todo o ideal romântico, ao mesmo tempo inovador e libertador, que se exprime nesta obra. Destaque, sobretudo, para o segundo andamento, Alegretto, “obra de dor extra-humana, lamentação de amor patético”, como a definiu Federico Garcia Llorca, interpretado com rigor e emoção e escutado em sentido recolhimento. Uma vez mais, a Orquestra Filarmonia das Beiras mostrou-se em superior plano, permitindo-me destacar o entusiasmo contagiante que Cláudio Ferreira evidenciou na sua condução. Em dia de aniversário, excelente momento aquele que nos foi oferecido por um Município que aposta claramente na cultura como elemento mobilizador e dinamizador dos interesses e valores, não apenas da cidade como de toda uma região.

[Foto: Isabel Pinto / facebook.com/isabel.pinto.127]

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