CONCERTO: Orquestra Filarmonia das
Beiras
Concerto Comemorativo de Elevação
de Estarreja a Cidade
Direcção | Maestro Cláudio
Ferreira
Solista | Angelina Rodrigues
(flauta)
Cine-Teatro de Estarreja
26 Jan 2019 | sáb | 21:30
Na passagem dos 14 anos sobre a
publicação em Diário da República da Lei nº3/2005, onde se
refere que “a Vila de Estarreja, no Município de Estarreja, é
elevada à categoria de Cidade”, tomou a Câmara Municipal de
Estarreja a iniciativa de assinalar a data com um concerto oferecido
à população. Pisando de novo o palco do Cine-Teatro de Estarreja,
a Orquestra Filarmonia das Beiras trouxe-nos um programa que incluiu
a Abertura de As Bodas de Fígaro, de Wolfgang Amadeus Mozart, o
Concerto para Flauta de Jacques Ibert, interpretado pela flautista
Angelina Rodrigues, e a Sinfonia nº7 de Ludwig van Beethoven, sob a
direcção do maestro Cláudio Ferreira. Uma palavra muito particular
para Angelina Rodrigues e Cláudio Ferreira, dois talentos nascidos
em Estarreja, com percursos académicos e artísticos brilhantes,
como, de resto, ficou bem provado na noite de ontem.
Da Abertura de As Bodas de Fígaro, não
haverá muito a dizer. Não correrei o risco de errar ao afirmar que,
algures no mundo, pela mesma altura, estaria a ser tocada esta mesma
peça, tal é a sua popularidade. E, no entanto, esta como outras
peças não fazem grande sentido se tocadas isoladamente. É alegre e
divertida, prepara-nos para uma comédia que se abre vibrante e cheia
de peripécias, mas no final fica sempre aquela nota de desconsolo por tudo não
ter passado de um ténue vislumbre, embora também não seja por aí que
virá grande mal ao mundo. O público apreciou claramente, aplaudiu com entusiasmo e preparou-se
para escutar o que vinha a seguir. E a seguir veio o Concerto para
Flauta de Jacques Ibert, na verdade o momento alto do programa, não
apenas pela genialidade duma obra que não é frequente ouvir em
sala, como pela forma como a Orquestra – e Angelina Rodrigues, em
particular – a soube interpretar. Entre o impressionismo francês e
o expressionismo alemão, tendências antagónicas que dominaram a
cena musical de inícios do século passado, Ibert coloca a flauta no
centro das atenções, conduzindo a obra através de paisagens
sonoras vivas de ritmo e fantasia. Angelina Rodrigues teve a audácia
de desafiar uma das mais difíceis peças do repertório flautístico,
oferecendo um conjunto de poemas musicais profundamente inspirados. O
resultado final foi absolutamente brilhante, para glória da solista
e para gáudio de uma plateia que não poupou nos aplausos.
Após um breve intervalo, a grande
música voltou-se para Ludwig van Beethoven e para a sua Sétima
Sinfonia, considerada por vários autores como a melhor sinfonia do génio alemão. Da serena melodia a irromper num esplendor de música do
primeiro andamento, à inesperada dança do Presto (terceiro
andamento) ou ao virtuosismo quase imperial do último andamento, é
todo o ideal romântico, ao mesmo tempo inovador e libertador, que se
exprime nesta obra. Destaque, sobretudo, para o segundo andamento,
Alegretto, “obra de dor extra-humana, lamentação de amor
patético”, como a definiu Federico Garcia Llorca, interpretado com rigor e emoção e escutado em sentido recolhimento. Uma vez mais, a
Orquestra Filarmonia das Beiras mostrou-se em superior plano,
permitindo-me destacar o entusiasmo contagiante que Cláudio Ferreira evidenciou
na sua condução. Em dia de aniversário, excelente momento aquele
que nos foi oferecido por um Município que
aposta claramente na cultura como elemento mobilizador e dinamizador
dos interesses e valores, não apenas da cidade como de toda uma região.
[Foto: Isabel
Pinto / facebook.com/isabel.pinto.127]
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