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EXPOSIÇÃO: “4.7 Sacaria de Ovar”
Escola de Artes e Ofícios
26 Jan 2019 > 06 Jan 2020
Recuando nas memórias aos meus anos de criança, eram muitas as mercearias em Ovar nos anos sessenta
do século passado às quais a população recorria. No alto dos
Pelames, na esquina com a Alexandre Herculano, ficava aquela onde me
dirigia mais frequentemente, com quinze tostões no bolso, pedindo
para aviar para a minha mãe o açúcar ou o sal, o grão, o feijão
ou o café. Não me lembro do caixeiro mas lembro-me da escura
mercearia, do intenso aroma a café, do livro do “aponte”, dos altos armários onde se alinhavam as
latas coloridas em latão ou folha de flandres, da arca que guardava
o arroz e as leguminosas, do colorido frasco de vidro sobre o balcão
que abrigava as “vitórias” do meu contentamento. Depois era o
ritual do avio, o açúcar amarelo vertido com a corredora para o
interior do cartucho de papel pardo, o bater do cartucho para o
açúcar assentar, o acrescentar de uma pitada até o fiel da balança
“António Pessoa” indicar com rigor o peso pretendido. Na
vertical sobre o balcão, depois de fechado, o cartucho era agora um
bloco prismático com duas curiosas orelhas arrebitadas, que eu
recolhia com as mãos ambas como se do mais precioso bem se tratasse,
transportando-o cuidadosamente até casa.
É justamente destes e de outros
cartuchos de papel que nos fala a exposição “4.7 Sacaria de
Ovar”, inaugurada na tarde de ontem na Escola de Artes e Ofícios.
Concebida, coordenada e organizada pela Divisão da Cultura, Desporto
e Juventude da Câmara Municipal de Ovar, com o apoio de várias
entidades, a mostra lança um olhar sobre “o elo mais fraco no seio
das artes ligadas ao papel”, como foi definida por António França.
Ao visitante são propostos seis núcleos, cada um deles
correspondendo a um segmento distinto do processo, das
matérias-primas ao fabrico do papel (preparação da pasta e
secagem), da produção e personalização de sacos à realidade
actual, o papel convidado a reinventar-se face à ameaça ecológica em que o plástico se tornou.
Esta exposição lembra-nos os primórdios da indústria papeleira em Ovar, ainda na primeira metade do século XIX, e da sua pujança ao longo do século XX, ara tal contribuindo a existência de condições favoráveis na resposta às necessidades de produção e desenvolvimento, nomeadamente a proximidade dos cursos de água, a qualidade das águas, e a existência de uma rede de comércio de trapos (de linho ou de algodão), e de papel velho, usados como matérias-primas para o fabrico de papel, recolhidas nos vários concelhos do distrito de Aveiro, porta a porta, por mulheres denominadas farrapeiras. O fabrico dos sacos de papel nas sacarias constituía também, um ofício exclusivamente feminino, realizado pelas saqueiras com recurso a equipamentos bastante rudimentares. Com a afirmação da indústria dos plásticos, foi-se assistindo a uma decadência progressiva das sacarias e à substituição progressiva dos sacos de papel, tendo a última unidade de produção encerrado na década de 80 do séc. XX. Paulatinamente assistiu-se também à decadência da indústria de produção de papel, com o encerramento da última unidade, em Arada, no ano de 2017.
Esta exposição lembra-nos os primórdios da indústria papeleira em Ovar, ainda na primeira metade do século XIX, e da sua pujança ao longo do século XX, ara tal contribuindo a existência de condições favoráveis na resposta às necessidades de produção e desenvolvimento, nomeadamente a proximidade dos cursos de água, a qualidade das águas, e a existência de uma rede de comércio de trapos (de linho ou de algodão), e de papel velho, usados como matérias-primas para o fabrico de papel, recolhidas nos vários concelhos do distrito de Aveiro, porta a porta, por mulheres denominadas farrapeiras. O fabrico dos sacos de papel nas sacarias constituía também, um ofício exclusivamente feminino, realizado pelas saqueiras com recurso a equipamentos bastante rudimentares. Com a afirmação da indústria dos plásticos, foi-se assistindo a uma decadência progressiva das sacarias e à substituição progressiva dos sacos de papel, tendo a última unidade de produção encerrado na década de 80 do séc. XX. Paulatinamente assistiu-se também à decadência da indústria de produção de papel, com o encerramento da última unidade, em Arada, no ano de 2017.
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