CINEMA: “Uma Vida Sublime”
Realização | Luis Diogo
Argumento | Luis Diogo
Fotografia | Pedro Farate
Montagem | Luis Diogo
Interpretação | Eric da Silva,
Susie Filipe, Rui Oliveira, Paulo Calatré, Jorge Rolla, Waldemar
Santos, Susana Sá, Mafalda Banquart
Produção | Luis Diogo e António
Costa Valente
Portugal | 2018 | Drama, Thriller |
106 Minutos | M/12
Cinema Dolce Espaço
25 Jan 2019 | Sex | 21:30
Gil Moreira (Rui Oliveira) tem um belíssimo carro e uma
casa enorme, mas a esposa não pára de o recriminar e as filhas
estão apenas preocupadas com a compra de novos jeans e iPhones. O
seu quotidiano é pautado pelo tédio, sentado num escritório vazio a olhar para o nada a maior parte do tempo. Quando um estranho na rua
lhe pede indicações para um restaurante, a sua vida está prestes a
conhecer uma mudança radical. Irá acordar passadas uma horas, preso a uma
cadeira num quarto mal iluminado e sem janelas. Penduradas em
cortina, não muito longe de si, um conjunto de fotografias retratam
pessoas horrivelmente mutiladas; há sangue seco espalhado pelo chão
e instrumentos de tortura alinhados numa mesa. O sequestrador surge entretanto, interrogando-o sobre a sua tristeza e frustração,
agredindo-o quando questionado e ferindo-o sadicamente para lhe lembrar que está inteiramente à sua mercê.
Mudar a vida de uma pessoa, fazendo-a
passar por uma experiência limite para lhe devolver a alegria de
viver é a mensagem que repousa neste “Uma Vida Sublime”. Marcado
pela monotonia e previsibilidade, o dia a dia das pessoas tende
rapidamente a tornar-se uma rotina, retirando-lhes aos poucos a
capacidade de se emocionarem e de voltarem a ser felizes. Numa
sociedade consumista, o imediatismo que reside na aquisição de bens materiais parece constituir a única fonte de prazer, esquecendo-se tudo o mais que a vida tem
para oferecer – e não, não estamos a falar apenas de saborear
“uma floresta negra na Baviera, um goulash na Hungria ou um peixe
branco grelhado com molho de romã na Georgia”. Primando pela
originalidade, a ideia de Luís Diogo traz implícita a visão duma
sociedade à beira da rutura, a precisar dum bom abanão que a
reabilite e a torne mais coesa e mais solidária, mais viva.
Uma excelente ideia, porém, não faz
só por si um excelente filme. E “Uma Vida Sublime” não é,
na verdade, um bom filme. A escassez de recursos pode explicar algumas
debilidades, sendo por demais evidente a falta de qualidade dos actores, Susie Filipe e Rui Oliveira a pautarem-se por honrosas excepções. A Luis Diogo, porém, se deve uma condução errante de toda a trama narrativa, com momentos intensos e de impacto crescente, de súbito
interrompidos por outros que são autênticas concessões à
vulgaridade – absolutamente incompreensível toda a sequência da
viagem do casal a Castelo Branco, num desfilar de clichés de postal turístico que roubam seriedade ao filme e em nada contribuem para a sua economia narrativa. Nota ainda
para uma evidente ausência de tacto na forma como o realizador
lida com certas situações, da câmara que se desvia do essencial no
determinante plano inicial do pequeno almoço em família ao ridículo de um indivíduo a correr daquela maneira, minutos depois de
ter saído de oito dias em estado de coma, o que retira coerência e credibilidade ao filme no seu conjunto. O final condensa a mensagem
naquilo que ela tem de melhor e devolve alguns sorrisos aos lábios do
espectador, mas o mal está feito. É já demasiado tarde para mitigar a sensação de
desconsolo perante uma verdadeira oportunidade perdida.
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