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sábado, 26 de janeiro de 2019

CINEMA: "Uma Vida Sublime"



CINEMA: “Uma Vida Sublime”
Realização | Luis Diogo
Argumento | Luis Diogo
Fotografia | Pedro Farate
Montagem | Luis Diogo
Interpretação | Eric da Silva, Susie Filipe, Rui Oliveira, Paulo Calatré, Jorge Rolla, Waldemar Santos, Susana Sá, Mafalda Banquart
Produção | Luis Diogo e António Costa Valente
Portugal | 2018 | Drama, Thriller | 106 Minutos | M/12
Cinema Dolce Espaço
25 Jan 2019 | Sex | 21:30


Gil Moreira (Rui Oliveira) tem um belíssimo carro e uma casa enorme, mas a esposa não pára de o recriminar e as filhas estão apenas preocupadas com a compra de novos jeans e iPhones. O seu quotidiano é pautado pelo tédio, sentado num escritório vazio a olhar para o nada a maior parte do tempo. Quando um estranho na rua lhe pede indicações para um restaurante, a sua vida está prestes a conhecer uma mudança radical. Irá acordar passadas uma horas, preso a uma cadeira num quarto mal iluminado e sem janelas. Penduradas em cortina, não muito longe de si, um conjunto de fotografias retratam pessoas horrivelmente mutiladas; há sangue seco espalhado pelo chão e instrumentos de tortura alinhados numa mesa. O sequestrador surge entretanto, interrogando-o sobre a sua tristeza e frustração, agredindo-o quando questionado e ferindo-o sadicamente para lhe lembrar que está inteiramente à sua mercê.

Mudar a vida de uma pessoa, fazendo-a passar por uma experiência limite para lhe devolver a alegria de viver é a mensagem que repousa neste “Uma Vida Sublime”. Marcado pela monotonia e previsibilidade, o dia a dia das pessoas tende rapidamente a tornar-se uma rotina, retirando-lhes aos poucos a capacidade de se emocionarem e de voltarem a ser felizes. Numa sociedade consumista, o imediatismo que reside na aquisição de bens materiais parece constituir a única fonte de prazer, esquecendo-se tudo o mais que a vida tem para oferecer – e não, não estamos a falar apenas de saborear “uma floresta negra na Baviera, um goulash na Hungria ou um peixe branco grelhado com molho de romã na Georgia. Primando pela originalidade, a ideia de Luís Diogo traz implícita a visão duma sociedade à beira da rutura, a precisar dum bom abanão que a reabilite e a torne mais coesa e mais solidária, mais viva.

Uma excelente ideia, porém, não faz só por si um excelente filme. E “Uma Vida Sublime” não é, na verdade, um bom filme. A escassez de recursos pode explicar algumas debilidades, sendo por demais evidente a falta de qualidade dos actores, Susie Filipe e Rui Oliveira a pautarem-se por honrosas excepções. A Luis Diogo, porém, se deve uma condução errante de toda a trama narrativa, com momentos intensos e de impacto crescente, de súbito interrompidos por outros que são autênticas concessões à vulgaridade – absolutamente incompreensível toda a sequência da viagem do casal a Castelo Branco, num desfilar de clichés de postal turístico que roubam seriedade ao filme e em nada contribuem para a sua economia narrativa. Nota ainda para uma evidente ausência de tacto na forma como o realizador lida com certas situações, da câmara que se desvia do essencial no determinante plano inicial do pequeno almoço em família ao ridículo de um indivíduo a correr daquela maneira, minutos depois de ter saído de oito dias em estado de coma, o que retira coerência e credibilidade ao filme no seu conjunto. O final condensa a mensagem naquilo que ela tem de melhor e devolve alguns sorrisos aos lábios do espectador, mas o mal está feito. É já demasiado tarde para mitigar a sensação de desconsolo perante uma verdadeira oportunidade perdida.

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