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segunda-feira, 17 de setembro de 2018

CERTAME: Festival Literário de Ovar 2018


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CERTAME: Festival Literário de Ovar
Alberto Sousa Lamy, Luis Carlos Patraquim, Álvaro Laborinho Lúcio, Bruno Henriques, Daniel Maia-Pinto Rodrigues, Jacinto Lucas Pires, Joana Bértholo, Rodrigo Magalhães, João Morales, Aurelino Costa, Manuela Leitão, Miguel Borges, Carlos Nuno Granja, Fernando Pinto do Amaral, Fernanda Mira Barros, Marcelo Teixeira, Anabela Dias, Manuela Gonzaga, Isabel Nery, Joel Neto, João Rios, João Paulo Sousa, André Domingues, José Gardeazabal, Cristina Marques, Clara Haddad, Pedro Seromenho, Sofia Fraga, Carlos Fiolhais, Maria João Cantinho, Carla Anjos, Filipa Martins, Pedro Guilherme-Moreira, Rodrigo Guedes de Carvalho, Victor Oliveira Mateus
Jardim do Cáster, Ovar
13 Set > 16 Set 2018


O que distingue a boa da má literatura? Como é que o escritor se relaciona com o mundo? Há liberdade na escrita? É necessário para o escritor o reconhecimento da crítica? Também há bons e maus leitores? À boleia destas e doutras questões, dúvida e rigor, inquietação e certeza, liberdade e consciência passearam de mãos dadas por essa verdadeira “oficina do pensamento” que constituiu a 4ª edição do Festival Literário de Ovar. Ao longo de quatro dias, o certame preencheu a agenda cultural do Concelho, mobilizando as atenções de escritores, leitores, ilustradores, editores, contadores de histórias, críticos literários, livreiros e público em geral. Com onze mesas programadas por onde passaram mais de três dezenas de oradores e oito moderadores, às quais se juntaram workshops de ilustração, sessões de contos para os mais novos, interpretações de poesia e mesmo um extraordinário momento de histórias contadas, protagonizado por Clara Haddad, o FLO teve tudo para agradar a todos.

O “pontapé de saída” não poderia ter sido mais auspicioso, encerrando um momento particularmente importante para Ovar e para os ovarenses, por aquilo que acrescenta à sua memória colectiva. Tratou-se da apresentação pública do 4º volume do “Dicionário da História de Ovar”, da autoria de Alberto Sousa Lamy, no qual o historiador revê e actualiza importantes passagens dos volumes anteriores, lançados em 2009. Seguiu-se outro grande momento do Festival Literário de Ovar, com Bruno Henriques a moderar a conversa entre os escritores Luís Carlos Patraquim e Álvaro Laborinho Lúcio, duas personalidades enormes mas que, curiosamente, não reclamam para si o título de “escritor”. “Não é escritor quem quer, não é escritor quem escreve. É escritor quem é reconhecido como tal. (…) Por enquanto sou escrevente e vou tentando perceber se há maneira de poder vir a ser escritor”, referiu Laborinho Lúcio a propósito deste assunto. Luis Carlos Patraquim, por seu lado, confessou-se “um erro de casting”: Ter chegado à ficção foi um acaso. Eu queria ser era empreendedor, ter um cabaret literário que se chamasse 'Chez Baudelaire' , disse, provocando uma gargalhada geral na numerosa plateia.

Sob o manto diáfano de alguns dos maiores nomes da literatura portuguesa e universal – de Raul Brandão a Herberto Hélder, de José Régio a Agustina Bessa-Luís -, o FLO pautou-se por um conjunto de considerações e inquietações lançadas à discussão – umas mais leves ou mais cómicas, outras mais sérias ou mais profundas – das quais, para reflexão no presente e para memória futura, destacaria as seguintes: “Ao fim de tantos anos, aquilo que mais conheço de verdadeiro ou que mais nos aproxima da verdade é a ficção” (Álvaro Laborinho Lúcio”); “Escrever é estar contra a barbárie” (Luís Carlos Patraquim); “Interessa-me imaginar o passado sendo esta, talvez, a melhor forma de projectar o futuro” (Jacinto Lucas Pires); “O que me interessa é a fisicalidade de certos gestos. Quanta força é necessária para partir um braço?” (Rodrigo Magalhães); “A criatividade excessiva acaba ali, é uma anedota. A literatura que interessa é aquela que acrescenta algo ao mundo” (Fernanda Mira Barros); “A literatura dá-nos a liberdade de sair do eixo do 'eu', que é um tirano, e tirarmos férias de nós mesmos” (Manuela Gonzaga); “O objectivo do escritor é o labirinto e não a solução para sair do labirinto” (Joel Neto); ou, “As palavras é que dão olhos ao mundo” (João Rios).

Num certame que, a cada nova edição, se afirma como sendo de todos e para todos, a adesão do público fez a diferença, impondo, por si só, o Festival Literário de Ovar como um momento da maior relevância num concelho com uma oferta cultural apenas sofrível. Foi muito bom ver entre o público figuras importantes como o artista plástico Emerenciano, a poetisa Aurora Gaia, o escritor Valter Hugo Mãe ou o fotógrafo Jorge Bacelar, mas foi melhor ainda ver como o público anónimo aderiu de forma incondicional, escutando, intervindo e convivendo neste abraço caloroso à literatura. A extraordinária qualidade dos moderadores foi outro aspecto diferenciador da edição deste ano do Festival, algo que parece importante relevar. Finalmente, uma palavra de reconhecimento e apreço ao grande obreiro deste encontro à roda dos livros, Carlos Nuno Granja, um homem que devota um amor incondicional à literatura e que, de forma abnegada, corajosa e profundamente altruísta, faz com que as coisas acontecem. Da melhor forma, o Festival Literário de Ovar aconteceu uma vez mais, ficando aqui um enorme obrigado ao Carlos e um “até para o ano”!

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