CONCERTO: “Noite Transfigurada”
Ensemble
de Cordas da Orquestra Sinfónica de Castilla y León
Lucas Macías
Navarro | oboé e direcção musical44º Festival Internacional de Música de Espinho | FIME 2018
Auditório de Espinho – Academia
30 Jun 2018 | sab | 22:00
Apresentando-se ao público de Espinho
com um naipe de 20 instrumentistas em palco, o Ensemble de Cordas da
Orquestra Sinfónica de Castilla y León, superiormente conduzido por
Lucas Macías Navarro, ofereceu um serão de enorme qualidade e
beleza, cujo alinhamento repousou em três obras primas da música
clássica dos séculos XVIII e XIX. Embora perceptíveis de forma
clara, as cambiantes de estilo mais significativas entre o barroco
tardio, o romantismo e a transição para o modernismo do século XX
inerentes a cada uma das obras foram harmonizadas graças à sábia
escolha dum programa que soube encontrar pontos de contacto entre
elas, proporcionando momentos de fruição e deleite verdadeiramente
únicos.
Composta por Grieg em 1884,
homenageando os 200 anos do dramaturgo Ludvig Holberg, contemporâneo
de Bach, a Suite Holberg abriu o programa, os seus cinco andamentos a
recuarem ao século precedente e a beberem a inspiração, no estilo
e na forma, no período do homenageado, quando pontificavam as danças
e as orquestras de cordas. Seguiu-se o Concerto para oboé d’amore
de Bach, o qual sintetiza magistralmente diversos estilos do final do
Barroco e permitiu evidenciar as qualidades de Lucas Macías Navarro,
um dos mais destacados oboístas da actualidade, desempenho que
acumula com uma bem-sucedida carreira de maestro.
Após um breve intervalo, assistiu-se à
interpretação de “A Noite Transfigurada”, de Arnold Schoenberg,
uma das obras centrais do final do Romantismo cuja linguagem musical
antecipa os modernismos do século XX. Inspirada num poema simbolista
de Richard Dehmel, “A Noite Transfigurada” foi escrita em três
intensas semanas de Setembro de 1899, “pretendendo simplesmente
representar musicalmente a natureza e os sentimentos humanos”, de
acordo com o seu autor. Mas a combinação entre uma forte influência
brahmsiana e o poder dramático e harmónico do wagnerismo, foi vista
como inconciliável pelos críticos e músicos tradicionais,
configurando um enorme escândalo à época e acabando por marcar
toda a carreira do compositor.
Profundamente descritiva, rica de
ambientes e efeitos conseguidos através de uma exploração
requintada dos instrumentos, do fraseado e da harmonia, “Noite
Transfigurada” viu-se valorizada nesta interpretação do Ensemble
de Cordas da Orquestra Sinfónica de Castilla y León graças ao rigor instrumental e harmonia do conjunto, adquirindo uma
intensidade levada, muitas vezes, aos limites da expressão
dramática. Noite transfigurada, noite encantada, noite de todas as
delícias, de todos os poemas em forma de música, foi assim a noite do passado sábado em mais um
momento único do 44º Festival Internacional de Música de Espinho.
Programa
Edvard Grieg | Suite Holberg, op. 40
Johann Sebastian Bach | Concerto para
oboé d’amore, em Lá Maior, BWV 1055
Arnold Schönberg | Noite
transfigurada, op. 4
[Foto: FIME 2018 /
facebook.com/fimespinho/photos]
Sem comentários:
Enviar um comentário