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terça-feira, 17 de julho de 2018

CONCERTO: "Hermeto!"



CONCERTO: “Hermeto!”
Hermeto Pascoal & Grupo
Auditório de Espinho – Academia
44º Festival Internacional de Música de Espinho | FIME 2018
14 Jul 2018 | sab | 22:00


“Para nascer consciente, a música universal precisa de confraternização. Se eu fosse cientista e descobrisse a cura do cancro, saía para a rua a gritar para os meus colegas médicos para curarmos logo o mundo todo. Mas as pessoas gostam de guardar os segredos e carregá-los para tirar proveito disso. A música universal não quer um melhor do que outro. Queremos que cada um faça tal como Deus fez o mundo: juntar as coisas diferentes, para somar. Se for igual, não soma nada.” Neste excerto duma entrevista de Hermeto Pascoal, é bem patente o modo de estar na vida deste genial multi-instrumentista. Inovador pelo prazer de explorar os sons e os seus limites, improvisador por vocação e exímio na capacidade de extrair música dos objectos mais inusitados, Hermeto Pascoal espalhou magia pelo Auditório de Espinho, deixando totalmente rendido à sua arte um público entusiasta que esgotou por completo a sala.

Acompanhado do baixista Itiberê Zwarg, no grupo desde 1977, do pianista André Marques, filho do célebre guitarrista Natan Marques, do baterista Ajurinã Zwarg, filho de Itiberê, do prodigioso Jota P. Ramos Barbosa nos sopros e do seu filho Fábio Pascoal, na farra da percussão, Hermeto Pascoal mostrou todo o seu enorme talento e criatividade nos teclados, mas também na flauta-baixo ou na melódica (também conhecida por “sanfoninha de sovaco”, como lhe chamava o “irmão” Sivuca), na chaleira ou no copo com água. Levando ao extremo a sua capacidade de tirar sons dos mais banais e improváveis instrumentos, Hermeto quis provar que o convencional e o não convencional podem seguir de mãos dadas quando o fim maior é a própria música. A partir dos sons produzidos por um arsenal de brinquedos, Hermeto deu um inspirado show de ritmo e alegria, provando ser um dos maiores criadores da música mundial - e ao afirmar isto, apenas estou a repetir aquilo que Gil Evans ou Miles Davis haviam dito já.


À margem desta fascinante esfera da não convencionalidade, o concerto registou momentos de enorme brilhantismo nas suas propostas jazzísticas mais clássicas. Para tal, Hermeto Pascoal socorreu-se em grande medida do álbum “No Mundo dos Sons” (2017), rendendo uma sentida homenagem àqueles com quem conviveu ao longo de mais de seis décadas de carreira. Do amigo Dorin ao “irmão” Sivuca, passando por Miles Davis, Ron Carter, Chick Corea, Tom Jobim ou Astor Piazzola, ninguém foi esquecido. Já no primeiro dos dois encores, Hermeto Pascoal sentou-se ao piano, brindando o público com um momento único de improvisação, intimista, profundo, visceral. Foi uma verdadeira viagem pelo mundo dos sons, a provar que, aos 82 anos, o músico está no auge da criatividade e quer dividir isso com o mundo. Saravá, campeão!


[Foto: oglobo.globo.com/]

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