Páginas

Mostrar mensagens com a etiqueta Figurado em Barro de Estremoz. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Figurado em Barro de Estremoz. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 24 de maio de 2023

LUGARES: Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

LUGARES: Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho
Largo Dom Dinis, Estremoz
Horário | Terça feira a domingo, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30
Ingressos | Bilhete normal € 1,55 (entrada livre à terça feira e exposições temporárias)


Localizado numa das mais emblemáticas Praça de Armas portuguesas, o Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho tem como patrono um ilustre estremocense, nascido em 01 de Março de 1927. Na página do Museu pode ler-se que, com 14 anos, Joaquim Vermelho já escrevia crónicas literárias e poesia para o “Brados do Alentejo”. Durante a década de 50 trabalhou para diversos periódicos, entre os quais o “Jornal de Notícias”, o jornal “A Planície” e o “Jornal de Estremoz”. Ainda nesta década tomou por profissão a de Professor de Trabalhos Manuais do Ensino Básico. No ano de 1968 foi chamado pela autarquia para trabalhar na Biblioteca. Porém, pouco tempo esteve ao serviço da Câmara Municipal de Estremoz, tendo efectivado em 1970 na Escola de Ponte de Sôr. A partir dos anos 70, iniciou uma atividade cultural intensa na Biblioteca e no Museu Municipal do qual foi Director até Agosto de 2002, um mês antes do seu falecimento. Em 01 de Março de 2003 a Câmara de Estremoz homenageou-o postumamente. Nesse dia o seu nome foi atribuído oficialmente ao Museu Municipal.

A génese do Museu remonta a 1879, quando o Presidente Deville pediu em sessão camarária “auctorização para crear um pequeno museu annexo á bibliotheca, ao qual deseja dar uma feição por assim dizer, local; vindo a ser mais propriamente uma exposição permanente de varias industrias peculiares de Extremoz, e a par dos productos industriaes, como, por exemplo, dos nossos marmores, cortiça, ceramica, podiam estar representados productos agricolas”. Em 06 de Março de 1880 já o espaço “Biblioteca e Museu anexo” estava provisoriamente aberto aos visitantes, sendo inaugurado definitivamente a 02 de Maio desse ano. Entretanto, adquirem-se colecções para a exposição. Em 1941 compra-se à Escola Industrial cerca de setenta bonecos, e em finais da década de 60, adquire-se ao antiquário Chambel peças de arte sacra, artesanato, mobiliário e faiança, valorizando desta forma o acervo inicial. Em 1971 é comprada a Reis Pereira a sua colecção de quase quatro centenas de bonecos. Necessitando de espaço, o Museu foi ocupar um imóvel no Largo D. Dinis, no início da década de 70, local onde ainda hoje se localiza. Em 1982 foi aberto ao público um espaço para exposições temporárias no Museu, e no ano seguinte foi inaugurada a Galeria de Desenho nos antigos Paços do Concelho.

A exposição permanente divide-se pelos dois pisos do Museu, sendo que as suas primeiras salas apresentam colecções de arte popular de artesãos como Mestre Rolo, José Vinagre, António Amaral e Joaquim Velhinho. Nas Salas 3, 4 e 5 reconstitui-se uma Casa Alentejana de finais do séc. XIX, com a sua Cozinha, Casa de fora e um Quarto. A trempe com a tigela da cachola, os chavões usados para marcar os bolos e por vezes o pão, os escaparates pintados à alentejana, os Pratos Ratinho e um Senhor da Cana Verde, representado num oratório com os Passos de Cristo são algumas das peças de grande valor que aqui podemos encontrar. As salas 6, 10 e 11 são dedicadas, respectivamente, à azulejaria, faiança e olaria. Na primeira destas três salas podem ainda ver-se três grandes arcas e uma Caixa Padrão Manuelina de 1499, tentativa por parte da Coroa de uniformizar as medidas de pesos usadas no comércio. As salas 7, 8 e 9 pretendem fazer a reconstituição possível de um espaço oficinal que vai das primeiras décadas aos anos 60n do século passado. Nelas, o figurado de Estremoz é rei, dando-se a conhecer a tradição através de um filme de Lauro António que data de Abril de 1976. Um escaparate e uma mesa de barrista, a par de centenas de bonecos de Estremoz, integram este particular espaço expositivo.

O projecto da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho resulta do trabalho desinteressado de um grupo de pessoas que quis dotar a cidade de um centro de cultura contemporânea, sendo o acervo composto por mais de duas centenas de obras doadas, na sua maioria, pelos próprios artistas. É aqui que volta a estar patente ao público uma parte do acervo de desenho do Museu e que desde 1996 está colocado em reserva, dadas as condições ambientais existentes nos Antigos Paços Medievais do Concelho. Embora se realize anualmente pelo menos uma exposições temporária a deste ano tem um significado especial já que assenta nas comemorações do quadragésimo aniversário da Galeria. É lá que podemos encontrar obras de Rogério Ribeiro, Armando Alves, Jorge Vieira, José Tagarro, Abel Manta, Julio, José Dias Coelho, João Hogan, Júlio Resende, Guilherme Casquilho, Sá Nogueira e Espiga Pinto, entre outros. Motivos de sobra para visitar Estremoz e, em particular, o seu Museu Municipal, espaço que, desde 18 de maio de 2010, integra a Rede Portuguesa de Museus.

quinta-feira, 11 de maio de 2023

LUGARES: Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz


[Clicar na imagem para ver mais fotos]

LUGARES: Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz
Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte
Rua Vasco da Gama, Estremoz
Horário | Terça-feira a domingo, das 09h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30. Encerra aos feriados e segunda-feira
Ingressos |€ 1,50 (bilhete normal)


“ (…) Maravilhar-se, à vontade, com os bonecos de barro que de Estremoz tomaram o nome. Maravilhar-se, diz ele, e não há termo melhor. (...) Oh, que maravilha, torna a dizer. A Estremoz irás, seus bonecos verás, tua alma salvarás. Aí fica um ditado inventado pelo viajante para passar à história.”
José Saramago, Viagem a Portugal (1981)

O magnífico espaço do Palácio dos Marqueses da Praia e Monforte, notável exemplar de arquitectura civil de finais do Barroco situado bem no centro da cidade de Estremoz, acolhe, desde o dia 09 de Agosto de 2021, o Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Este espaço resulta do êxito da Candidatura do Figurado em Barro de Estremoz à Lista Representativa do Património Cultural Imaterial da Humanidade, classificado pela UNESCO no início de Dezembro de 2017. O objetivo principal do Centro Interpretativo passa por se colocar o foco no presente e futuro do Boneco de Estremoz, com uma exposição idealizada para ser dinâmica nos conteúdos e na apresentação do figurado, dando destaque aos produtores, no fundo os grandes protagonistas desta história multisecular.

A produção de figurado em barro, vulgarmente conhecida como “Bonecos de Estremoz”, é uma arte com mais de três séculos e que faz parte da identidade cultural do concelho. As primeiras referências ao figurado de Estremoz são de princípios do séc. XVIII. Os bonecos tiveram certamente início na necessidade espiritual, ou seja, o povo queria ter em casa os santinhos da sua devoção. Comprá-los em talha era impossível, dadas as dificuldades do quotidiano, pelo que, supomos, uma mulher habituada a lidar com o barro se terá atrevido a modelar pela primeira vez um santinho da sua devoção particular e daqui terá nascido a tradição, numa terra onde o barro era abundante. Datadas de 1770, encontram-se referências às “boniqueiras”, mulheres que faziam curiosidades e figuras de barro e que tinham um trabalho não reconhecido enquanto ofício.

Dos santinhos, e dada a expansão do gosto presepista ligado à Escola de Mafra de setecentos, passou-se às cenas da natividade. Os Presépios eruditos, observados nos Conventos e casas abastadas, depressa foram adaptados à mundividência popular das bonequeiras. Assim, na cena envolvente à da Sagrada Família nasceram os Reis Magos, os ofertantes regionais e um vasto reportório, como o “pastor a comer”, o “pastor a dormir”, a “mulher das galinhas”, o “pastor com o cabrito às costas”, entre outros. Hoje estas figuras “sobrevivem” fora do Presépio, estando inventariadas mais de cem figuras relacionadas com o quotidiano das gentes alentejanas, na sua vivência rural e urbana, estendendo-se aos emblemáticos “O Amor é Cego” ou à “Primavera”, aos “Fidalgos e Fidalguinhos” ou, mais recentemente, ao boneco “Rainha Santa Isabel”.

Em oitocentos, os homens começam a intrometer-se na arte, segundo relato da barrista Georgina, que confirmou a Sebastião Pessanha, no princípio do séc. XX, ter aprendido a arte por intermédio do seu esposo. Em 1935, José Maria Sá Lemos, Diretor da Escola Industrial de Estremoz, convenceu a artesã Ti Ana das Peles, que apenas sabia modelar “Assobios”, a ensinar o que sabia da arte e a participar no processo de “ressuscitar” as figuras que já ninguém modelava desde a década passada. Deste feliz encontro de saberes, nasce o gosto da família oleira Alfacinha pelo figurado de barro, nomeadamente Mariano da Conceição, que o transmite a alguns empregados da Olaria e a familiares diretos. Actualmente, modelam bonecos as Irmãs Flores, Fátima Estróia, Afonso e Matilde Ginja, Duarte Catela e Ricardo Fonseca. Utilizando as técnicas tradicionais, mas modelando com formas contemporâneas e locais, temos Isabel Pires, Jorge da Conceição e Célia Freitas / Miguel Gomes.

O Figurado em Barro de Estremoz envolve um processo de produção que dura vários dias: os elementos das figuras são montados antes de serem cozidos num forno elétrico, pintados pelo artesão e cobertos com um verniz incolor. As figuras em argila seguem temas específicos, sendo “vestidas” com a indumentária regional do Alentejo ou com as roupas da iconografia religiosa cristã. A viabilidade e o reconhecimento da arte são assegurados pelos artesãos através de seminários educativos não-formais e iniciativas pedagógicas, bem como pelo Centro UNESCO para a Valorização e Salvaguarda do Boneco de Estremoz. Os conhecimentos e competências são transmitidos nas oficinas familiares e em contextos profissionais, com os artesãos activamente envolvidos nas acções de sensibilização organizadas em escolas, museus, feiras e outros eventos.