A exposição de Helena Ramos, vencedora da edição de 2025 do Prémio Novo Banco Revelação, propõe um diálogo subtil entre o humano e o colectivo, entre o gesto individual e a pulsação das comunidades que habita e observa. A jovem artista, formada em Arquitectura e natural de São Paulo, trabalha a fotografia como uma forma de encontro — com amigos, corpos, espaços e afectos —, construindo um arquivo visual da convivência. No centro da sua prática está a ideia de relação, uma ética e uma estética do “viver junto” que a aproxima, paradoxalmente, das abelhas de Maeterlinck: seres cuja sobrevivência depende da presença do outro. Tal como o dramaturgo belga via na colmeia uma metáfora da sociedade, Ramos vê na fotografia uma maneira de prolongar os laços que definem a experiência humana. A artista transforma a câmara num instrumento de cuidado e escuta, fazendo das suas imagens uma cartografia afectiva das pequenas comunidades urbanas contemporâneas.
O Prémio Novo Banco Revelação, instituído por Serralves em parceria com o banco homónimo, tem-se afirmado como uma das plataformas mais relevantes de apoio à nova geração de fotógrafos. Ao distinguir Helena Ramos – o que acontece pela primeira vez com um artista estrangeiro -, o júri reconhece não apenas a força de um olhar em formação, mas também uma concepção da imagem como espaço de comunhão e partilha. A artista retoma, de modo profundamente contemporâneo, a dimensão simbólica da fotografia: cada registo é simultaneamente documento e relação, marca e encontro. Nas suas séries dedicadas às festas, concertos e bastidores de uma juventude que vive e cria colectivamente, Helena Ramos encontra uma poética da atenção, em que o acto de fotografar se confunde com o desejo de pertencer. O prémio reforça, assim, a sua função essencial, a de revelar não só novos talentos, mas novas formas de ver e de estar no mundo, inscrevendo esta exposição na genealogia de um projecto que tem sabido actualizar o papel da arte como espaço de reconhecimento e de comunidade.
No núcleo mais recente da sua obra, Helena Ramos expande o seu território visual, explorando outras metáforas do encontro — como a das imagens a preto e branco de esgrimistas, que evocam um duelo coreográfico entre aproximação e distância, acção e reacção. Tal como na esgrima, a fotografia é aqui um exercício de atenção, um “en garde!” perante o instante e o outro. Cada disparo é diálogo e cada imagem uma forma de habitar o espaço comum que o olhar inaugura. Ao integrar o Prémio Novo Banco Revelação do corrente ano, esta exposição em Serralves reafirma a importância de sustentar percursos emergentes que interrogam, com rigor e delicadeza, o lugar da arte na construção do colectivo. Helena Ramos é, nesse sentido, uma “artista-abelha”: o seu trabalho não se fecha sobre si mesmo, antes entretece-se a partir das relações que o tornam possível. Como favos de luz, as fotografias da artista recordam-nos que viver — e criar — é sempre um gesto partilhado.
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