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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

EXPOSIÇÃO: “Gabinete de Curiosidades / Museu de Causas - Coleções Agostinho Santos”



EXPOSIÇÃO: “Gabinete de Curiosidades”
Museu de Causas - Coleções Agostinho Santos
Casa Comum - Universidade do Porto
12 Jul > 06 Set 2025


Quando entrou para a área do jornalismo, Agostinho Santos achava que ia conseguir mudar o mundo com as suas reportagens. Não mudou o mundo, apesar da sua enorme dedicação à profissão ao longo de mais de três décadas, mas terá mudado o dia a dia de muita gente. Este ideal de solidariedade, cumplicidade e empatia está na base do Museu de Causas, tema da tese “Paleta Contemporânea - Museu de Causas”, apresentada em 2015 no âmbito do doutoramento em Museologia que frequentou na Faculdade de Letras e Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. O projecto viria a traduzir-se num livro e teve uma primeira exposição no Espaço Corpus Christi, em Vila Nova de Gaia, inaugurada a 25 de Abril de 2018. Assente em duas colecções especiais - a obra do pintor sobre intervenção social e o conjunto de obras que tem de outros artistas -, o espólio do Museu de Causas conta com 2.500 trabalhos de mais de 500 artistas que sustentam, no seu conjunto, uma narrativa visual e sensível, construída por uma comunidade artística multifacetada e profundamente comprometida com uma leitura crítica do presente e com a imaginação do devir.

“Gabinete de Curiosidades / Museu de Causas – Coleções Agostinho Santos” chega agora às Galerias da Casa Comum (edifício da Reitoria da Universidade do Porto), reunindo cerca de duzentas obras, algumas delas inéditas, de setenta artistas. Graça Morais, Nadir Afonso, Zulmiro de Carvalho, Valter Hugo Mãe, Baltazar Torres e Isabel Lhano são apenas alguns dos artistas que se fazem representar nesta mostra com obras inéditas. É possível ainda ver trabalhos de Álvaro Siza Vieira, Fernando Lanhas, Ângelo de Sousa, Júlio Pomar, António Carneiro, Fernando Távora, Armanda Passos, Francisco Laranjo, Júlio Dolbeth, entre tantos outros, numa mostra que tem a particularidade de ser composta na íntegra por trabalhos de alunos ou antigos alunos, docentes ou ex-docentes da Universidade do Porto. Ao reunir desenhos, pinturas, documentos e livros de artista (alguns deles verdadeiras raridades) e promovendo a convivência de diferentes disciplinas, estéticas e gerações, a exposição valoriza o diálogo entre mestres e discípulos e é também uma forma de mostrar como o legado artístico se transmite e se reinventa dentro e a partir da comunidade da Universidade do Porto.

Pinturas, desenhos, esculturas, maquetes, livros de artista, correspondência, fotografias. São muitas e diversificadas as armas de arremesso que, em forma de arte, se insurgem contra os problemas que afectam o nosso mundo. As injustiças, as guerras, a fome, o alastrar das doenças, as desigualdades, o desemprego, a degradação dos direitos dos trabalhadores, a corrupção, a discriminação de género, o racismo, a xenofobia, os problemas ambientais e a crise climática, entre outros, são temas inscritos num programa expositivo que tem por objectivo agitar as consciências das pessoas e pôr a sociedade a olhar a arte como uma poderosa arma de inquietação e reflexão e não como mero elemento decorativo. “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”, é um verso de Sophia, mas que se adequa na perfeição ao lado errado do mundo que todos os dias se afirma pelas notícias na rádio ou nos jornais. A arte contemporânea é uma cidade sem muros nem ameias e, por isso, projectos independentes como o Museu de Causas ou a exposição “Gabinete de Curiosidades” são tão importantes. São eles que fomentam a revolta contra a crueldade do mundo e ajudam a espalhar a mensagem de paz e liberdade de que tanto carecemos.

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