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domingo, 8 de junho de 2025

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: "Svetlana" | Mary Gelman



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Svetlana”,
de Mary Gelman
100 Anos da Leica I - O Mundo Através do Visor
Curadoria | Magda Pinto
Museu Nacional Soares dos Reis
24 Mai > 13 Jul 2025


A celebrar o centenário do aparecimento da Leica I, a móvel, discreta e espontânea câmara que revolucionou o mundo da fotografia, o Museu Nacional Soares dos Reis apresenta, até ao dia 13 de Julho, uma mostra representativa de cinco dos mais consagrados fotógrafos do mundo, a par de cinco fotógrafos emergentes e cujos trabalhos foram recentemente distinguidos com o Prémio Leica Oscar Barnack. Está neste caso Mary Gelman, vencedora do Prémio em 2018 na categoria “Estreante”, com uma série fotográfica intitulada “Svetlana”, da qual pode ser vista uma parte nesta mostra. Gelman nasceu em 1994, na cidade russa de Penza, e formou-se em Sociologia antes de se dedicar aos Estudos de Género e Fotografia, na Escola DocDocDoc, em São Petersburgo. Fotojornalista e professora, os seus projetos combinam uma forte abordagem pessoal com práticas documentais e conceptuais, nomeadamente questões de género e corpo, limites e identidade, discriminação e a relação do homem com o meio ambiente.

Durante a era soviética, prevalecia a teimosa ideia de que, sob o comunismo, pessoas com deficiência não existiam. Todos os esforços foram feitos para reduzir continuamente esse número. Todos os possíveis foram feito para evitar o nascimento de crianças com deficiência. Os pais eram colocados sob forte pressão ao saber que as crianças com deficiência seriam colocadas em lares estatais, os chamados internatos. Após o colapso da União Soviética, seguido pelo colapso do antigo sistema no início dos anos 90, uma nova constituição democrática foi estabelecida, garantindo que todas as pessoas tivessem os mesmos direitos. Isso encorajou muitos pais a lutarem pelo futuro de seus filhos com deficiência. Lentamente, mas com segurança, um número crescente de centros de reabilitação foi fundado: Svetlana é um deles. A comunidade foi criada pelo Movimento Camphill e baseia-se nos princípios da antroposofia. Apoiados por tutores e ajudantes voluntários, os residentes de Svetlana cultivam os seus próprios vegetais e produzem laticínios que vendem nas aldeias vizinhas. A sua auto-sustentabilidade faz de Svetlana uma das poucas instituições na Rússia onde adultos com deficiência têm a oportunidade de um futuro profissional.

Inspirada por uma primeira visita a Svetlana, Mary Gelman trabalhou durante dois anos num projecto fotográfico na comunidade. “Fiquei realmente surpreendida com a minha vontade de regressar tantas vezes ao mesmo lugar”, lembra. O resultado é uma abordagem fotográfica com um forte vínculo interpessoal: retratos hesitantes e abordagens cautelosas; imagens situacionais que reflectem uma vida quotidiana que, a princípio, parece estranha. No entanto, é uma vivência recheada de rituais que celebram uma fascinante normalidade. Feitas de apego e sensibilidade, as imagens são o testemunho do talento da fotógrafa para uma observação precisa e dão nota de um impulso sociológico fortemente envolvente. Gelman explica: “Eu não queria mostrar a alteridade de uma pessoa, a sua deficiência. Eu queria que o observador sentisse algo claramente original sobre a pessoa.” As suas fotos transcendem quaisquer categorias como “normal” ou “deficiente”, revelando o quão livre e capaz qualquer pessoa pode ser, quando não rodeada de estigmatização e discriminação.

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