CONCERTO: Jorge Palma & Júlio Resende
Cine-Teatro de Estarreja
21 Jun 2025 | sab | 21:30
Ponto alto das comemorações do 20.º aniversário da reabertura do Cine-Teatro de Estarreja, o concerto do passado sábado chamou àquele espaço dois nomes maiores do panorama nacional, dois músicos de excepção, distantes entre si na idade e no tempo de palco, mas irmanados na qualidade e virtuosismo das suas composições e interpretações. Falo de Jorge Palma e Júlio Resende, reunidos num projecto único que revisita, com bom gosto e enorme sensibilidade, mais de cinquenta anos de uma bem-sucedida carreira do autor de “Frágil”, ao mesmo tempo que evidencia os extraordinários dotes de arranjador e improvisador de Júlio Resende. Num processo simbiótico a raiar a perfeição, a dupla teve para oferecer quase duas horas da melhor música, trazendo para primeiro plano temas de todos conhecidos, enriquecidos com novas roupagens, feitas de prelúdios e interlúdios belos e livres, escutados num silêncio reverencial por um público completamente rendido à sua riqueza e inspiração.
Os acordes que precederam “O Meu Amor Existe”, tema de abertura do concerto, faziam antever algo de muito especial. Ainda que facilmente reconhecíveis, Júlio Resende soube revesti-los de um lirismo único, uma quase pureza, transportando o público ao “grau zero” da criação. Mas foi quando as palavras, frágeis e incertas, se soltaram da garganta de Jorge Palma, que o concerto se estabeleceu nesse lugar único onde os homens e os deuses se tocam. Com uma voz que “é a sua, e pronto”, o cantor ofereceu-se inteiro e limpo naquilo que é, sem truques na manga, contando para tal com um apurado trabalho no som, com a assinatura de M.P. . A partir daqui foi somar dois mais dois, o tempo do concerto transformado num tempo de intimidade e cumplicidade ímpar com o público, ao qual bastou aceitar o convite à viagem pelos caminhos do jazz, dos blues e de outros géneros comuns ao universo musical de ambos os artistas e entregar-se ao muito de bom que, tema após tema, o concerto teve para oferecer.
Desconstruídas, rearranjadas, canções como “Quem és tu, de novo”, “Bairro do Amor”, “Canção de Lisboa”, “À espera do fim” ou “Frágil” iam abrindo espaço à contemplação do que é novo não o sendo. A anteceder “Só”, Júlio Resende pôs “ordem na casa” ao falar de um projecto com um ano de existência e três subidas únicas ao palco, o que só se pode lamentar. “Mano a Mano” juntou na voz de Jorge Palma a poesia de Maria do Rosário Pedreira e a música de Júlio Resende. Seguiu-se então uma divertida “dança das cadeiras”, com Júlio Resende a tocar de forma única “Come Together”, dos Beatles, e “(A Casa da) Mariquinhas”, alternando Jorge Palma na interpretação de “Deixa-me Rir”, “Estrela do Mar”, “Acorda menina Linda” e “Dormia tão Sossegada”. “Encosta-te a Mim” colocou um ponto final no alinhamento, chegando, enfim, o “encore” com um inicial “Blowin’ in the Wind”, de Bob Dylan e dedicado “ao povo da Palestina”. “Na Terra dos Sonhos” e “A Gente Vai Continuar” fecharam em definitivo um concerto extraordinário a todos os títulos. Enquanto houver estrada para andar...
Joaquim Margarido, vibrei com o concerto de sábado passado e agradeço-lhe a gentileza de me nomear na publicação do seu post que muito apreciei, pois me elucidou acerca de um ou outro pormenor que me escapou.
ResponderEliminarAproveito para o felicitar pela qualidade e oportunidades das suas apreciações.