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sábado, 24 de maio de 2025

LUGARES: Museu Cerralbo



LUGARES: Museu Cerralbo
Calle de Ventura Rodríguez, 17, Moncloa - Aravaca, Madrid
Horários | De terça-feira a domingo, das 09h30 às 15h00 (quinta-feira, também das 17h00 às 20h00)
Ingressos | € 3,00 (bilhete normal)


O Museu Cerralbo apresenta a singularidade de ser um dos escassos exemplares de palacete madrileno do século XIX a conservar a sua decoração original. Como palácio-museu é uma referência obrigatória para conhecer a forma de vida da aristocracia de finais do século XIX e início do século XX. Além disso, como museu de coleccionador, reflecte o gosto artístico da sua época, com um conjunto de peças que o tornavam, à época, numa das colecções privadas mais importantes de Espanha e, sem dúvida, a mais completa do seu tempo. O edifício, construído entre 1883 e 1893, foi concebido, num primeiro momento, como moradia espaço onde expor de forma harmoniosa as obras de arte, antiguidades e curiosidades reunidas pelo afã colecionador dos seus proprietários. A inalterabilidade à passagem do tempo é apenas aparente, uma vez que às lógicas mudanças realizadas na casa por vários motivos, juntaram-se, primeiro, o terrível acontecimento da Guerra Civil (1936-39) e, depois, as reformas museológicas do século XX. Desde 2002, o palácio vem sendo alvo de um minucioso trabalho de recuperação dos seus ambientes originais, o que significa o sacrifício da apreciação individualizada das obras de arte, em favor da leitura global de uma sala, considerada, em si mesma, uma peça de valor artístico.

Antes da visita ao palácio, visitemos o Jardim, cuja aparência actual é uma recriação de 1995. A intervenção realizada permite desfrutar hoje de um espaço de recorte clássico-romântico, com um singelo espelho de água ao centro, no qual se reflectem diversas esculturas ao jeito italiano, enquanto os caminhos encurvados e a vegetação densa o aproximam do jardim melancólico ao estilo inglês. O andar térreo, onde eram recebidas as visitas de confiança, sofreu sucessivas transformações, a maior das quais realizada na década de 40 do século XX, com o sacrifício dos quartos e outras salas de serviço em favor de umas galerias nas quais expor, de modo desafogado e didáctico, as colecções artísticas. Essa é a razão pela qual a apresentação expositiva da Ala de Verão tem por base a recriação e não a recuperação fidedigna dos espaços, como acontece no andar principal. Já na Ala de Inverno, esta recriação de ambientes fez-se, quando foi possível, com peças que originalmente se encontravam nas várias dependências.

Com vista para o Jardim, o Salão Vermelho, o Salão Amarelo e a Saleta Cor-de-Rosa guardam um conjunto de peças importantes, das quais se destacam um óleo com assinatura de Valentín Carderera e que retrata Fernando de Aguilera y Contreras, XV Marquês de Cerralbo, e a pintura “Anjos Cantores”, de Ludovico Carracci (1600-1610). Ainda no espaço térreo importa atentar no óleo “A Virgem com o Menino”, de Antoon Van Dyck (c. 1621-1622), patente no Oratório, o magnífico espelho oscilante da Fábrica de Meissen (c. 1885), presente na Sala de Confiança, ou o piano vertical Worms Ainé (Paris, século XVIII), no Quarto do Mirador. Espaço cenográfico do maior interesse, a escada de honra através da qual se acede ao andar principal guarda o grande brasão com as armas do casal Cerralbo, encaixado entre duas tapeçarias do século XVII, uma de Bruxelas e outra de Pastrana, com as armas de importantes famílias da nobreza espanhola.

São muitos os aposentos do andar principal a merecer a mais viva atenção, a começar pela Sala de Armas, lugar destinado à recepção dos convidados onde se celebrava a cerimónia do beija-mão,  e cuja ambientação evoca as salas de armas medievais, transportando-nos ao marco das nobres gestas nas quais participaram os antepassados da família. A Sala das Colunetas vai buscar o nome ao conjunto de pequenas figuras procedentes da cultura egípcia, grega, etrusca e romana, em terracota, mármore e bronze, erigidas sobre pequenas colunas de ágata, alabastro, mármores de cores e madeira dourada e dispostas sobre a mesa central. A Sala de Jantar de Gala é dominada pela enorme mesa onde terão sido servidos esplêndidos buffets nas noites de festa e de baile. Atente-se nos aparadores onde repousam peças de serviço de louça em metal prateado, entre as quais se destacam os samovares e os curiosos  pratos cobertos, bem como o aquecedor para manter a temperatura dos alimentos. No Salão Bilhar, para além da espectacular mesa de bilhar francesa do século XIX, avulta o “Retrato de um cavalheiro”, de Tintoretto (c. 1555).

O Escritório é o aposento mais estreitamente ligado à personalidade do Marquês de Cerralbo, concebido como sala de recepção de ilustres visitas, sem qualquer sentido utilitário. Precisamente aqui encontramos algumas das obras que o Marquês considerava das mais importantes de toda a sua coleção pictórica, como o retrato de Alexandre de Médicis, da oficina de Bronzino ou o retrato de Maria de Médicis, da oficina de Van Dyck. Perante a sumptuosidade do Escritório, a Biblioteca é um lugar de estudo e de concentração intelectual, o que se percebe pela sobriedade que envolve uma sala que abriga cerca de dez mil volumes, nomeadamente manuscritos de grande valor artístico, literário e científico. Ponto final do percurso expositivo, o Salão de Baile tem nas decorações com painéis de ágata de Granada, nos mármores dos Pirinéus e nos grandes espelhos venezianos, as notas de maior esplendor. A ideia de “templo da dança” é sublinhada pela incorporação de bustos ao estilo romano, distribuídos entre os assentos. Neste salão tiveram lugar, além dos bailes sempre grandiosos, importantes exposições de Arqueologia e Numismática e saraus literários.

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