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terça-feira, 1 de abril de 2025

CONCERTO: "Radiohead Recomposed" | Orquestra de Jazz de Espinho & Mário Delgado



CONCERTO: “Radiohead Recomposed”
Orquestra de Jazz de Espinho & Mário Delgado
Direcção musical | Eduardo Cardinho e Paulo Perfeito
Auditório de Espinho - Academia
28 Mar 2025 | sex | 21:30


Radiohead. A Enciclopedia Britannica refere-os como sendo, “sem dúvida, a banda de art-rock mais bem-sucedida do início do século XXI”, acrescentando que o quinteto “produziu algumas das músicas mais majestosas - se bem que saturadas de angústia - da era pós-moderna”. Formado em 1985 em Abingdon, Oxford, o grupo era composto pelo cantor e guitarrista Thom Yorke, o baixista Colin Greenwood, o guitarrista Ed O'Brien, o baterista Phil Selway e o guitarrista e teclista Jonny Greenwood. Cultores de bandas de rock norte-americanas como os R.E.M., Nirvana, Sonic Youth ou Pixies, os Radiohead não resistiram a ir beber ao Jazz algumas das suas influências, nomeadamente a Miles Davis, Charles Mingus e Alice Coltrane. Virá daqui, pelo menos em parte, a poderosa sensação de alienação que as suas músicas provocam, as paisagens sonoras intrincadamente texturadas, os longos silêncios de alguns dos seus temas mais icónicos a trazerem com eles notas mágicas e impressivas capazes de nos alçarem no seu voo e de nos transportarem aos confins do universo.

Foram precisamente os Radiohead e a sua música a estarem na mira da Orquestra de Jazz de Espinho, fazendo deles o alvo central de um projecto diferenciador e estimulante a muitos títulos, tanto para os músicos como para o público que esgotou o Auditório de Espinho nas duas sessões agendadas. Encontrar a combinação perfeita entre o jazz e o rock alternativo terá sido o grande desafio colocado aos oito músicos a quem coube a tarefa de trabalhar os arranjos de outros tantos temas, recompondo sem nada omitir e fundindo géneros sem os desvirtuar. Nazaré Silva, José Pedro Coelho, Paulo Perfeito, Telmo Marques, Estela Alexandre, Johannes Krieger, Daniel Bernardes e Carlos Azevedo puseram mãos à obra com a mestria que se lhes reconhece, ousando desconstruir e reerguer temas de grande complexidade, num processo não isento de riscos (afinal, não é de ânimo leve que se mexe em verdadeiros ícones, como é o caso de “Just” ou “Paranoid Android”, sob pena de se ser acusado de profanação). O resultado exprime-se numa simples palavra: Notável!

Passados pelo crivo do jazz, os temas escolhidos mostraram a sua enorme plasticidade e deram-se a ver numa roupagem cheia de swing, ritmo e alegria. Ao encontro das sonoridades idiossincráticas da banda, a guitarra não poderia ficar esquecida, recaindo em Mário Delgado o convite para se juntar à Orquestra de Jazz de Espinho. Com uma carreira de quase quatro décadas, Delgado é um guitarrista com recursos e técnicas variadas na guitarra eléctrica, o que lhe vem dos diversos estilos provenientes das suas influências, nas quais o rock o jazz ocupam lugar de destaque. Isso ficou bem patente no conjunto de apontamentos solísticos de altíssimo nível, sendo muito bem secundado por uma secção rítmica fortíssima - a par de Mário Delgado, José Diogo Martins, nos teclados, revelou-se fundamental nessa fixação das sonoridades próprias dos Radiohead - e pelo trabalho contrapontístico dos metais, com destaque para o trombonista Hugo Caldeira e para o trompetista João Tavares. Mais um grande concerto com o selo OJE.

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