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segunda-feira, 17 de março de 2025

CONCERTO: "Baroque Masterpieces"



CONCERTO: “Baroque Masterpieces”
Com | Robert Ehrlich (flauta de bisel), Alexander von Heißen (cravo)
Músico convidado | João Francisco Távora (flauta de bisel)
CásterAntiqua - Festival de Música Antiga de Ovar
Capela do Calvário
16 Mar 2025 | dom | 18:00


A encerrar um fim-de-semana rico e variado em torno da Música Antiga, o CasterAntiqua elevou a fasquia ao ponto mais alto com a proposta de um programa dedicado às obras-primas do período Barroco. Expectativas ao rubro, a Capela do Calvário revelou-se pequena para acolher um vasto público que encontrou no concerto a oportunidade de escutar obras de alguns dos mais consagrados compositores de setecentos, interpretadas por dois músicos de relevo no panorama internacional da música antiga. Robert Ehrlich e Alexander von Heißen são ambos professores na Hochschule für Musik und Theater “Felix Mendelssohn Bartholdy”, em Leipzig, da qual Ehrlich foi reitor durante nove anos. Ambos têm no currículo a conquista de alguns dos maiores prémios em concursos internacionais, um vasto conjunto de digressões por todo o mundo e também a gravação de inúmeras obras como solistas e como membros de ensemble. Para este concerto convidaram João Francisco Távora, mestre em Música Antiga pela referida Escola de Leipzig, na classe do Professor Robert Ehrlich, e um dos directores artísticos do CásterAntiqua.

Foi um concerto de emoções, aquele a que pudemos assistir ao final da tarde de ontem. Emoções fortes, diga-se, desde logo pelo local escolhido para o concerto - um dos mais representativos do nosso património religioso -, sereno pela própria natureza de um espaço de culto, mas de uma enorme carga simbólica pela inquietação e dramatismo do Cristo crucificado e de todas as figuras que o rodeiam, dos soldados que jogam as suas vestes aos dados, a uma mãe também ela em agonia ante a morte eminente do seu filho. De um lado a santidade, do outro a heresia. Um sagrado e um profano contrastantes e cuja presença foi evidente no conjunto de peças musicais escolhidas para o programa deste terceiro dia do Festival, de um mundano e efusivo Händel a abrir, a um Bach profundamente espiritual a fechar. De emoções fortes, ainda, porque trazer para o concerto uma “parada de estrelas”, onde se incluem George Frideric Handel, Jacob van Eyck, Matthew Locke, Arcangelo Corelli e Johann Sebastian Bach, é tudo menos fácil, ainda que o possa parecer. A interpretação das obras-primas destes mestres exige entrega, rigor e um enorme virtuosismo. E foi precisamente aqui que o concerto atingiu os mais altos patamares de excelência, graças à mestria dos intérpretes, à sua técnica exímia, ao seu enorme talento, à sua forte cumplicidade.

A par de uma lição de música de altíssimo nível, “Baroque Masterpieces” foi também uma lição de História. Ciceroneado por Robert Ehrlich, o público bebeu nas suas palavras apaixonadas o sabor da viagem, ao mesmo tempo que se foi cruzando com nomes importantes da história da música, do compositor e flautista francês Jacques-Martin Hotteterre, a Frans Brüggen, maestro neerlandês que devolveu a nobreza de estatuto à flauta de bisel, dando a conhecer ao mundo o seu fascinante repertório da Renascença e do Barroco. A jornada teve início numa Londres pacificada e próspera, onde Handel triunfou graças à genialidade das suas composições, nomeadamente óperas sobre as quais se construiu uma multiplicidade de arranjos e variações. Não tardaríamos a ver a mesma Londres mergulhada em guerras fratricidas e assolada pela peste, disso sendo testemunhas as composições de Matthew Locke. Em Roma, centro do mundo musical à época, deparámo-nos com Arcangelo Corelli, outro dos génios do Barroco, e com a sua maravilhosa Sonata em Lá Maior, Op. 5 No. 9. A viagem terminou em Leipzig, por volta do ano de 1730, no ambiente celestial que só as composições de Bach logram criar. Concluída a primeira parte deste CásterAntiqua, o sentimento é o da maior satisfação, havendo expectativas fundadas de que os quatro últimos dias do Festival serão apoteóticos. Mil bravos!

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