EXPOSIÇÃO: “Black Ancient Futures”
Baloji, April Bey, Jeannette Ehlers, Lungiswa Gqunta, Evan Ifekoya, Kiluanji Kia Henda, Gabriel Massan, Jota Mombaça, Sandra Mujinga, Nolan Oswald Dennis, Tabita Rezaire
Curadoria | João Pinharanda, Camila Maissune
MAAT - Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia
18 Set 2024 > 17 Mar 2025
A exposição “Black Ancient Futures” reúne trabalhos de Baloji, April Bey, Jeannette Ehlers, Lungiswa Gqunta, Evan Ifekoya, Kiluanji Kia Henda, Gabriel Massan, Jota Mombaça, Sandra Mujinga, Nolan Oswald Dennis, Tabita Rezaire, onze artistas da vasta diáspora africana, muitos deles pela primeira vez em Portugal. Expostos em vários espaços do museu – nos dois edifícios, MAAT Gallery e MAAT Central, e no MAAT Garden, os trabalhos apresentados resultam do cruzamento de características específicas da cultura africana com outras culturas e outros espaços geográficos e revelam a energia própria e original do destino viajante da condição africana – de exílio e fixação, forçados pelo contexto esclavagista, ou de migração desejada ou forçada pelas actuais condições de crise global, económica, política e climática –, proporcionando um universo de possibilidades criativas.
Partindo das complexas estruturas do denso e desconhecido pensamento visual e filosófico africano (rico em referências específicas ao misticismo e à mitologia, à ecologia e à política, à ficção e à história), mas nunca alheados da cultura e da economia, da tecnologia e da ciência da era pós-industrial global em que vivemos, estes artistas propõem um vasto conjunto de narrativas e imagens alternativas que desafiam as representações dominantes de África no imaginário ocidental. As suas obras reimaginam um passado, um presente e um futuro para a experiência artística negra na sua realidade transcontinental, contribuindo para o próprio desenvolvimento global da arte contemporânea. São propostas que não ilustram uma corrente ou movimento historicamente definidos e que não se fixam numa leitura ideológica fechada, que convocam técnicas, disciplinas e linguagens diversas, combinando delirantes fantasias formais, cromáticas e sonoras, experiências matéricas, saltos temáticos e temporais, referências directas a espiritualidades não-ocidentais com o uso ou evocação de tecnologias pós-industriais na criação de narrativas mágicas ou de ficção científica.
Nestas obras, a crítica histórica, política, social e cultural, a sátira e a ironia, o lirismo e a épica cruzam-se para ensaiar futuros positivos, partindo não só da dor ou do sofrimento que a herança esclavagista ainda significa, mas também convocando passados de abundância (pré-colonial). Paradigmático é o trabalho de Kiluanji Kia Henda (Angola, 1979) que se apropriando da história e manipula espaços e estruturas públicas, entrelaçando o facto e a ficção e acrescentando-lhes o humor, tornando-os numa ferramenta para pensar a partir de novas perspectivas. Como ele, os restantes autores procuram reverter os sentidos da história abrindo vias para outros imaginários culturais e sociais, integrando os recursos e as problemáticas actuais em realidades não-materialistas que se afirmam como estratégias oníricas, de cura e bem-estar colectivos, sugerindo a possibilidade de um universo de espaços utópicos favorável a mudanças de perspectiva, tanto sobre a justiça racial e histórica que assumem, como perante as hierarquias e as geografias da criação contemporânea que navegam.
[Texto baseado no Guia da Exposição, o qual pode ser consultado em https://maat.pt/sites/default/files/2024-10/Black-Ancient-Futures_guia-exposicao.pdf]
Sem comentários:
Enviar um comentário