Páginas

sábado, 9 de novembro de 2024

CONCERTO: Sara Serpa, André Matos, Craig Taborn e Jeff Ballard



CONCERTO: Sara Serpa, André Matos, Craig Taborn e Jeff Ballard 
Guimarães Jazz 2024
Centro Cultural Vila Flor
08 Nov 2024 | sex | 21:30


Desconsolador. Ainda a tentar apagar da memória o concerto que abriu o primeiro fim de semana do Guimarães Jazz, escrevo estas breves palavras sob o lema do desconsolo. A milhas do nível qualitativo a que o Festival nos vem habituando nas mais de três décadas que leva de vida, aquilo que sobressaiu na noite de ontem, nos sete ou oito temas interpretados, foi a debilidade das vocalizações e as composições desinspiradas, semelhantes, para pior, a música para embalar bebés. Talvez até fosse essa a intenção da cantora, a julgar pela esmagadora maioria do público que, em algum momento do concerto, com maior ou menor profundidade, “passou pelas brasas”. Os aplausos foram sendo dispensados a conta gotas, como que arrancados a ferros, e a ovação final, frouxa e breve, evidenciou o sentimento generalizado de quem quer dizer que “por hoje chega”, não fossem os músicos lembrar-se de voltarem ao palco para um indesejado e indesejável encore.

Havia Jeff Ballard e havia Craig Taborn. Seriam estes dois nomes suficientes para colocar em alta as expectativas e justificar uma deslocação (no meu caso) de duzentos quilómetros? Certamente que sim, não apenas pelo seu historial de muitas décadas de carreira e pelos territórios musicais pelos quais se passeiam com maestria, mas também pelo percurso afirmativo de consolidação artística ao lado de grandes nomes da história recente do Jazz, de Chris Lightcap a Vijay Iyer, de Pat Metheny a Chick Corea. Embora breves, os apontamentos a solo mostraram que não estava enganado (cabe aqui uma referência a André Matos, também ele com algumas intervenções solísticas de qualidade). O problema esteve mesmo em Sara Serpa e naquela sequência repetitiva e monocórdica de ti-ti-tis e pa-pa-pas, omnipresente e castradora, que fez do concerto um tempo de monotonia e fastídio. Na única vez que fugiu a este registo, interpretando em inglês o tema “A Mother’s Heart”, foi pior a emenda que o soneto. Resta-nos a consoladora certeza de que tudo o que o Guimarães Jazz nos trouxer daqui para a frente só pode ser melhor.

Sem comentários:

Enviar um comentário