EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Cuspindo a Barlovento”,
de Manuel Sendón
Imago Lisboa Photo Festival
Museu Nacional de Arte Contemporânea
26 Set 2024 > 05 Jan 2025
Acontecimento marcante no panorama da fotografia nacional e internacional, o Imago Lisboa Photo Festival dedica esta sua sexta edição às várias narrativas artísticas em torno do aquecimento global. Este fenómeno climático, que tem como consequência um aumento gradual da temperatura média da Terra ao longo do tempo, é causado principalmente pela intensificação do efeito estufa, um processo natural que retém parte do calor solar na atmosfera para sustentar a vida no planeta. Porém, as atividades humanas intensivas, principalmente a queima de combustíveis fósseis (como carvão, petróleo e gás natural) e a desflorestação de grandes áreas, têm aumentado significativamente a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, agravando o aquecimento global. Adoptando o lema “Action for a Green Future”, o Festival pretende ser fonte de reflexão e debate na luta contra o aquecimento global, exigindo uma rápida mudança nos hábitos quotidianos, da redução do consumo de energia à opção por alimentos de origem sustentável, da minimização do desperdício à promoção de estilos de vida mais sustentáveis.
“Cuspindo a Barlovento”, do fotógrafo galego Manuel Sendón, recupera um dos maiores desastres ecológicos na história da Europa, com trágicas consequências ambientais para o litoral da Península Ibérica e para França. A 13 de novembro de 2002, o Prestige estava a caminho de Gibraltar depois de ter zarpado do porto de Ventspils, na Letónia, e foi apanhado por uma tempestade ao largo da Galiza, o que lhe provocou danos irreversíveis entre os quais um rombo de 50 metros no casco. Seis dias depois de encalhar, a embarcação partiu-se em dois e acabou por se afundar a 28 milhas do Cabo de Finisterra. Mais de 63 mil toneladas de petróleo foram derramadas e cerca de três mil quilómetros das costas espanhola, portuguesa e francesa ficaram poluídas. As imagens de Sendón mostram, de forma pungente, os efeitos da catástrofe. As palavras deixadas a propósito do acidente não deixam margem para dúvidas quanto à forma como as autoridades espanholas lidaram com o assunto: “O resultado era previsível, dado que os cientistas tinham estudado as correntes de Nadal que determinavam o regresso do fuelóleo à costa, mas o desprezo por este país fez com que os responsáveis nem sequer pedissem a opinião dos cientistas e se limitassem a cuspir a barlovento.”
Uma a uma, as paisagens apocalípticas, maioritariamente em formato 1:1, prendem a nossa atenção: postes destruídos, árvores negras, pássaros e caranguejos em agonia cobertos de alcatrão, rochas, areia, passeios, jardins, parques infantis negros. Tudo negro. O trabalho fotodocumental dá igualmente nota da onda de solidariedade gerada pela tragédia, com mais de 300 mil voluntários de toda a Europa a participarem nas operações de limpeza das praias, zonas rochosas atingidas e resgate dos animais afectados pela maré negra. Um trabalho desesperado, em que, como Sísifo, eram obrigados a limpar de novo as praias e enseadas que tinham deixado limpas na maré anterior. A gestão política da catástrofe ambiental por parte do Governo espanhol, liderado por José Maria Aznar, provocou uma onda de protesto em todo o país, com mais de 200 mil pessoas a manifestarem-se sob o lema “nunca mais”. Movimento sem paralelo na história de um povo habitualmente representado como submisso e conservador, o “Nunca Máis” converteu-se, mesmo fora da Galiza, em sinónimo de rebelião cívica contra a injustiça. “Viva o espírito do Nunca Máis.”
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