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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

CINEMA: "Conclave"



CINEMA: “Conclave”
Realização | Edward Berger
Argumento | Peter Straughan
Fotografia | Stéphane Fontaine
Montagem | Nick Emerson
Interpretação | Ralph Fiennes, Jacek Koman, Lucian Msamati, Stanley Tucci, John Lithgow, Bruno Novelli, Thomas Loibl, Isabella Rossellini, Sergio Castellitto, Valerio Da Silva, Carlos Diehz, Joseph Mydell, Vincenzo Failla, Garrick Hagon, Merab Ninidze
Produção | Alice Dawson, Robert Harris
Estados Unidos | 2024 | Thriller | 120 Minutos | Maiores de 12 anos
Cinema Vida Ovar
07 Nov 2024 | qui | 19:05


O processo de escolha de um novo papa tem tanto de mediatismo como de secretismo, com os seus cardeais “sequestrados” até à eleição por uma maioria de dois terços, o famoso “fumo branco” ou o pregão “habemus papam”. É impossível saber com exactidão quais os passos do processo, já que apenas uma minoria tem acesso ao interior da Capela Sistina onde tudo acontece, mas “Conclave” abre as portas de um espectáculo hipnotizante, que envolve rituais, mistérios, traições e algumas situações verdadeiramente inesperadas. Neste filme em concreto, agora que o papa está morto, cabe ao cardeal Lawrence dirigir o conclave na escolha de um sucessor. Com os cardeais isolados na grande sala, a votação inicial produz alguns favoritos óbvios: um incontornável africano, um conservador italiano ou um ambicioso americano. À medida que a eleição prossegue e o caminho se estreita, há partidos que se vão tomando. A introdução do cardeal Benitez na corrida, secretamente nomeado pelo falecido papa para servir em Cabul, é só mais um elemento no caos de um longo e indisciplinado processo.

Não sendo este o primeiro filme a abordar um conclave papal – Nanni Moretti e, mais recentemente, Fernando Meireilles, exploraram o assunto –, nele residem uma série de elementos documentais que acabam por suportar e dar e força à ficção, das formalidades aos preparativos, do confisco dos telefones pessoais ao voto de segredo. Aquilo que “Conclave” mostra é um grande grupo de homens de todo o mundo na companhia uns dos outros, comportando-se como colegas de trabalho ou amigos da Faculdade, que voltam a reunir-se algum tempo depois de terem estado juntos pela última vez. Em conjunto, formam os seus grupinhos, cortam na casaca uns dos outros, tentam influenciar-se mutuamente e especulam sobre quem deve tornar-se no novo líder da Igreja Católica. Se na vida real as coisas se passam realmente assim é um mistério que ficará por revelar, mas esta representação de um quotidiano invulgar acaba por dar àquelas pessoas um toque de humanidade e por aumentar consideravelmente o valor e interesse do filme.

Após o sucesso de “A Oeste Nada de Novo”, galardoado com o Óscar de Melhor Filme Internacional em 2023, Edward Berger muda radicalmente de tom, oferecendo-nos um filme deveras envolvente. Entre o humor refinado e a seriedade circunspecta, “Conclave” consegue um extraordinário equilíbrio entre esses dois estados contraditórios. Fiennes, como a personagem que interpreta, é de um rigor exemplar, mostrando-se muito mais cativante do que na generalidade dos papéis que já o vimos assumir. Resoluto e determinado no cumprimento da missão que lhe foi atribuída, chega a ser comovente na resposta que dá ao valorizar a dúvida em detrimento das certezas. Firmemente devotados aos seus princípios, por mais mesquinhos que possam parecer, Tucci, Lithgow ou Castellitto têm igualmente grandes desempenhos. Há, ainda, a recriação do Vaticano, com cenários impressionantes e que brilham ao nível dos diálogos e da acção. Filme a ter em conta na corrida aos Óscares do próximo ano, “Conclave” constitui uma das experiências cinematográficas mais gratificantes de uma temporada que está a chegar ao fim.

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