CONCERTO: Capitão Fausto
Centro de Artes de Ovar
22 Nov 2024 | sex | 21:30
Começado a preparar em 2021, “Subida Infinita”, o quinto álbum de estúdio dos Capitão Fasuto, acabou por ver a luz do dia no passado mês de Março e, desde então, a banda lisboeta está na estrada a mostrar o seu trabalho e a provar ser ela uma das melhores, mais imaginativas, engenhosas e versáteis bandas portuguesas nas áreas do indie e da pop. Será excessivo falar de um recomeço, mas a saída de Francisco Ferrari, um dos “históricos” dos Capitão Fausto, deixou uma ferida no grupo nada fácil de sarar. Embora Ferrari não esteja esquecido - o concerto de Ovar prova-o -, Miguel Marôco tem sido um substituto à altura, mostrado “unhas” para os teclados e “minimizando danos”, ao mesmo tempo que Fernando Biu se vem revelando como um extraordinário reforço, dando uma mão nas guitarras e fazendo a música levantar voo graças aos solos inspirados de flauta transversal e saxofones. Olhando o resto da banda, Salvador Seabra continua a marcar o ritmo com a sua forte batida na bateria, Manuel Palha é um virtuoso da guitarra e dos teclados, Domingos Coimbra, com o seu baixo eléctrico, é o contramestre de uma segura nau que tem em Tomás Wallenstein o verdadeiro Capitão, a figura que se move com destreza entre a guitarra e o piano e cuja voz é, e sempre será, a inconfundível, incontornável imagem de marca do grupo.
De novo em Ovar e de novo com casa esgotada, os Capitão Fausto tiveram a recebê-los um público fiel, seguro das virtualidades da sua banda de eleição, com os seus favoritos muito bem definidos (Domingos Coimbra parece recolher consensos) e preparado para puxar pela música e pelos músicos do princípio ao fim, abrindo as gargantas em gritos estridentes e não se fazendo rogar em prolongados aplausos. A banda correspondeu com uma mescla de temas do seu mais recente álbum e a revisitação dos seus mais icónicos trabalhos, fazendo do tempo do concerto um tempo de transbordante energia e alegre partilha. Tal como no disco, “Muitas Mais Virão” e “Andar à Solta” foram os temas de abertura do concerto e, com eles, o vislumbre de sonoridades onde a calma e o embalo predominam. Foi assim com a canção de amor magoado que, propositadamente ou não, marca um regresso - “outra vez nesta sala / mais uma a ver se vou falar / sobre esta dor que me cala / (…)”, e confirmado num muito dançável tema onde se reconhece que “já parece tarde para fingir que sou novo / e nada aprendendo com aquilo que provo”. Para além do marcado ecletismo deste novo trabalho, o que os dois temas revelam - e que os restantes virão a confirmar - é uma verdadeira carta de intenções: A manifesta vontade de partilhar dúvidas, questionar relações, assumir fragilidades e abraçar a vida tal como ela é.
No desfiar do seu novo álbum, os Capitão Fausto mostraram a quase totalidade dos temas que o compõem, neles se falando de protestos e sossegos, mãos sem polegar e nervos à flor da pele, o fim de uma amizade e motivos para saber teimar. É difícil destacar um tema, tantas e tão boas foram as propostas atiradas para cima da mesa, mas atrevo-me a eleger, pela sua harmonia e pela beleza do poema, “Nada de Mal” como o ponto mais alto do concerto. Outros pontos altos se sucederam, daqueles que decorreram da sua popularidade e que saltaram dos acordes dos músicos para as palmas e as vozes do público, aos que se extraem de inspirados solos, reveladores do virtuosismo de cada um dos elementos da banda. “Faço as Vontades”, “Corazon”, “Certeza”, “Amanhã Tou Melhor” e, sobretudo, “Boa Memória”, dos álbuns “Os Dias Contados” e “A Invenção do Dia Claro”, dão nota do quão ancorados estão, letras e músicas, no coração dos fãs. Outro dos mais belos momentos do concerto surgiria já no “encore”, primeiro com “Lentamente” e esse delicado e prolongado diálogo do saxofone de Fernando Biu com os teclados de Miguel Marôco e, a finalizar, com “Nunca Nada Muda”, magoada balada que nos vem dizer que “longa é a subida e não vai dar / com cada um para seu lado”. Em Ovar estivemos juntos e unidos. E unidos vamos permanecer num eterno brinde à esperança, à amizade e à boa música dos Capitão Fausto.
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