EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “Memórias”,
de Américo Santos
iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes 2024
Casa da Cultura de Avintes
10 Mai > 26 Mai 2024
Julgo não errar ao afirmar que todas as edições do iNstantes - Festival Internacional de Fotografia de Avintes tiveram o seu ponto alto numa exposição ou num debate, num documentário ou na apresentação de um livro de artista, e este ano não é excepção. No seu objectivo de mostrar a Fotografia nas suas mais variadas vertentes - conceptuais, estéticas, orgânicas ou filosóficas - a organização do Festival traz ao conhecimento do público a exposição “Memórias”, mostra de um valor incalculável, não apenas pela qualidade intrínseca das imagens que a constituem, como pelas personalidades artísticas a elas associadas, entre as quais avulta o nome de Emílio Biel. A exposição é composta por vinte placas de vidro, algumas de dimensão apreciável, nas quais estão fixadas imagens recolhidas na sua maioria há mais de um século. Paralelamente, estão expostos vinte positivos que resultam da sua digitalização e retocagem, dando a ver aspectos do quotidiano da vindima nos primórdios do século XX, desde a colheita nas encostas debruçadas sobre o Douro até ao momento da exportação.
A História da fotografia faz-se de episódios notáveis, alguns deles verdadeiramente mirabolantes, fruto da inventividade e tenacidade de um conjunto de visionários que apostaram na criação e desenvolvimento de técnicas revolucionárias à época. Da primeira fotografia permanente da história, criada por Joseph Nicéphore Niépce em 1826, à daguerreotipia e à calotipia, invenções de 1839 que acrescentavam detalhe às imagens e, no caso da calotipia, possibilitava múltiplas reproduções da mesma imagem, o caminho é feito de evolução e conquista. Em Março de 1851, Frederick Scott Archer mostra ao mundo o colódio húmido, uma solução viscosa de piroxilina que, quando misturada com outros reagentes e em contacto com nitrato de prata se torna sensível à luz. A aplicação do colódio ainda líquido faz-se sobre uma placa de vidro ou metal, a qual é submersa por alguns minutos numa solução de nitrato de prata, o que a torna foto-sensível. Depois, o processo de exposição através da câmera é já conhecido, ficando o negativo nas placas, das quais podemos ver vários exemplos na exposição agora patente.
As placas agora em exposição na Casa da Cultura de Avintes são propriedade de Américo Santos, mestre joalheiro de profissão e um apaixonado pela fotografia. Seleccionadas de um total de noventa que lhe foram oferecidas por um amigo que não tinha interesse no material, as placas permitem identificar, com absoluta certeza, o nome de alguns fotógrafos proeminentes de finais do século XIX e início do seculo XX. Olhando as imagens, aquilo que se destaca é o olhar do fotógrafo e o seu objectivo de registar o património natural, histórico, social e etnográfico. Embora em lugar recuado nas fotografias de grupo, a mulher surge como parte integrante do negócio do vinho, estando presente em todos os momentos da sua produção. Quais arqueólogos, recuamos um século e queremos perceber que pessoas são aquelas, se os locais ainda existem, se estas imagens são únicas ou se há outras reproduções algures em museus ou casas particulares. Para já, fica o fascínio perante tão importantes quanto belos exemplares que nos são dados a apreciar.
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