CONCERTO: Danilo Perez, John Patitucci, Adam Cruz Trio
Auditório de Espinho
27 Mar 2024 | qua | 21:30
Quando o nome de Danilo Pérez foi anunciado na programação do Auditório de Espinho para fechar o primeiro trimestre de 2024, a reacção do público não se fez esperar e a sala esgotou em três tempos. Na memória de todos estava ainda a sua passagem por este palco em 2019 quando, ao lado de Potter, Cohen, Grenadier e Blake, fez furor e colocou a fasquia do FIME desse ano ao mais alto nível. Reconhecidamente um dos maiores nomes do jazz das últimas décadas, o pianista e compositor trouxe com ele o “irmão” John Patitucci, exímio executante do contrabaixo e baixo eléctrico, parceiro de quase duas décadas no lendário quarteto de Wayne Shorter, e ainda Adam Cruz, baterista de excepção e um dos compositores mais versáteis e criativos do jazz contemporâneo. Um cartaz com estes nomes gerava naturais expectativas, que viriam a confirmar-se plenamente ao longo de um serão marcado pela entrega, energia e generosidade dos músicos na construção de momentos sublimes, feitos de harmonia e ritmo, colorido e magia.
Se o dia correu mal ou há algo na nossa vida que nos aborrece, a solução está em assobiar. Assobiar umas notas quaisquer, chegar a casa, pegar no iPhone e gravá-las. Foi este o conselho que Danilo Pérez deixou aos presentes no início do concerto, os primeiros acordes de “Whistle Through Adversity” assobiados, como não podia deixar de ser, os sorrisos e a boa disposição a instalarem-se na sala e a perdurarem ao longo de uma hora e meia da melhor música. “Rediscovery Of The Pacific Ocean”, do álbum “Panama 500” (2014) foi o tema seguinte, o “jazz global” de Danilo Perez a evidenciar uma mistura de raízes panamenhas, música folclórica latino-americana, ritmos da África Ocidental e impressionismo europeu e a fazer da música uma ponte pluridimensional e sem fronteiras entre os todos. Fantástico o diálogo entre um Patitucci mais convencional e um Pérez mais dissonante, a fazer-se norma ao longo do concerto e a mostrar uma cumplicidade que vem de longe entre os dois músicos, o som do sintetizador ao estilo dos anos 70 a rivalizar com a limpidez do piano e a colocar esse tom de nostalgia nos vários temas interpretados.
O activismo social de Danilo Pérez levou-o a dedicar os dois temas seguintes a duas figuras maiores da cultura americana e mundial com as quais se identifica, Angela Davis e Toni Morrison. “Alternate Realities” foi mais um momento de grande fulgor jazzístico, com trechos abertos à improvisação que arrancaram entusiásticas palmas dos presentes, enquanto “Beloved” foi um momento de calma e elegância que trouxe à superfície o refinamento da composição e o virtuosismo dos músicos, com Adam Cruz a destacar-se na sua forma discreta mas extraordinariamente eficaz na marcação de tempos e ritmos. Com a assinatura de John Patitucci, “Wayne” foi mais do que uma viagem pelo legado de Wayne Shorter, Danilo Pérez a desenhar prolongados e inspirados solos, para deleite dos presentes. A fechar o alinhamento, “Point of no Return” voltou a evocar a grande referência destes músicos, propondo a festa e a alegria como princípios de vida, iludindo ao máximo todos os pontos sem retorno. Reclamadíssimo, o “encore” ofereceu aos presentes a possibilidade de escutar mais dois temas, qualquer um deles prodigioso na forma como abriu caminhos à improvisação e reforçou a conivência e amizade entre os três músicos. Lá, onde quer que esteja, Wayne Shorter deve ter tido uma noite feliz.
[Foto: Auditório de Espinho - Academia | https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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