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sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

EXPOSIÇÃO: “Onde o Sol e a Água Doce se Encontram e as Árvores Sinuosas Filtram o Sol”



EXPOSIÇÃO: “Onde o Sol e a Água Doce se Encontram e as Árvores Sinuosas Filtram o Sol”,
de Kapwani Kiwanga
Curadoria | Filipa Loureiro
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
24 Nov 2023 > 02 Jun 2024


O Museu de Arte Contemporânea de Serralves apresenta “Onde o Sol e a Água Doce se Encontram e as Árvores Sinuosas Filtram o Sol”, exposição da artista canadiana e francesa Kapwani Kiwanga, a primeira exposição individual da artista em Portugal. Kapwani Kiwanga tornou-se, nos últimos anos, uma conceituada figura no panorama internacional da arte contemporânea. A sua prática artística, iniciada em meados da década de 2000, assenta numa extensa investigação no âmbito das ciências humanas e sociais e abrange instalações complexas, esculturas, vídeos e performances. Em 2024, será ela a representante do Canadá na sexagésima edição da Bienal de Veneza. O trabalho de Kiwanga debruça-se sobre questões que envolvem desequilíbrios de poder históricos e contemporâneos e uma parte considerável da sua obra aborda os efeitos prevalentes destas assimetrias, colocando narrativas históricas em diálogo com as realidades contemporâneas, o arquivo e as possibilidades do futuro.

Para esta exposição, Kapwani Kiwanga criou uma instalação envolvente de grande escala com cerca de 14.000 metros de cordas de algodão coloridas e vibrantes. A luz natural proveniente da clarabóia e da imponente janela que marca o espaço arquitectónico da galeria assume o seu lugar nesta intrincada estrutura de várias camadas, onde a sobreposição e a transparência são elementos essenciais da instalação. A exposição contempla ainda uma escultura de grande dimensão do projeto em desenvolvimento “The Worlds We Tell: Threshold”, instalada no piso térreo da sala, e um conjunto de quatro novos painéis em cerâmica encomendados para esta exposição. Através destas peças, o espectador é convidado a reconsiderar as noções passadas e atuais de centro e periferia e a imaginar estruturas transculturais alternativas para um futuro sentido de pertença, ideias que percorrem o ADN da artista e que se reconhecem no projecto que agora apresenta em Serralves.

Ao considerar a importância do lugar no desenvolvimento dos projetos de Kiwanga, não podemos ignorar o Porto. A cidade deve o seu desenvolvimento à relação secular com o rio, o mar e, naturalmente, com as indústrias que lhe estão associadas, em particular a construção naval e a cordoaria. O algodão — material predominante nesta instalação, cujo fio foi entrançado em corda segundo saberes e práticas ancestrais — foi um dos produtos mais cobiçados nas transações coloniais. O mar serviu como palco destas trocas, mas também é arquivo e testemunha de passados violentos. Sob as linhas de cordas que se estendem das paredes, vemos um conjunto de novos relevos em cerâmica. Produzida em azulejo português, esta nova série de relevos reconhece a importância do material usado, o azulejo, e reflete as influências culturais, sociais e económicas que estão inextricavelmente ligadas à história de Portugal. A elipse é aqui a forma geométrica dominante, num encontro entre diferentes campos que se interseptam e outros mundos que partilham a mesma estrutura.

Descendo ao piso inferior da galeria, o visitante é confrontado com uma imagem que se desmultiplica em camadas, emoldurada por uma escultura de painéis de madeira coloridos. Três esferas feitas de madeira de figueira acentuam esta composição geométrica linear abstracta. Uma linha cerâmica de vidrado claro, que divide longitudinalmente a instalação em duas metades, simboliza a separação dos mundos material e espiritual. A argila branca é frequentemente associada à morte. À medida que o observador percorre a escultura de grande formato, a orientação e a ordem desta imagem do mundo — acima e abaixo, escuridão e luz — tornam-se uma questão de perspectiva e posicionamento. Em diálogo directo com a grande janela que domina o espaço, esta escultura estabelece uma ligação envolvente com a natureza e a paisagem do Parque de Serralves, que este ano celebra o seu centenário. “Onde o Sol e a Água Doce se Encontram e as Árvores Sinuosas Filtram o Sol” envolve de forma poética a história social e as narrativas culturais que moldam não só as nossas formas de ver o mundo, mas também o modo como as estruturamos.


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