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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Questão da Paisagem | A Questão do Vazio”



EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA: “A Questão da Paisagem | A Questão do Vazio”,
de Augusto Lemos e Conceição Magalhães
Mira Forum
06 Jan > 17 Fev 2024


O perto e o longe, o dentro e o fora, o real e o encenado, o nítido e o desfocado, o digital e o analógico, a cor e o preto e branco. As dicotomias nas quais a fotografia se espraia são intermináveis e nelas reside a essência da arte de fotografar, naquilo que tem de subtileza, graça e desafio. Uma das mais significativas e que mais questões levanta prende-se com a paisagem e o vazio, pelo paradoxo que se adivinha na integração dos dois conceitos, mas também pelo carácter instável e efémero de cada um deles. É disto que nos falam Augusto Lemos e Conceição Magalhães na exposição conjunta “A Questão da Paisagem | A Questão do Vazio”, patente no Espaço Mira até 17 de Fevereiro. Naturalmente diversas entre si, as duas exposições complementam-se naquilo que revelam ou pretendem ocultar. Se uma é aberta e livre ao olhar do visitante, a outra pede para ser espreitada. Se uma se explica em palavras que são (como) poemas, a outra estende-nos a página em branco e oferece-nos o lugar do poeta.

Em “A Questão da Paisagem”, Augusto Lemos mostra-nos a paisagem como algo que não é apenas um local físico, mas um interpretação que tem por base o conhecimento, as sensações e a memória. Embora tenha abordado outros temas, a fotografia de paisagem foi o assunto que o artista mais explorou ao longo dos últimos cinquenta anos. “Na fotografia, a paisagem é um fragmento da realidade enquadrado pela câmara”, pode ler-se na Folha de Sala que acompanha a exposição, sendo esta ideia consubstanciada por um conjunto de imagens que tanto mostram a paisagem duriense como a lezíria ribatejana, os Caminhos de Santiago ou a Estrada Nacional 2. Um conjunto de imagens da série “Bloody Landscapes” (Centro Português de Fotografia, 2018), transporta o nosso olhar até às paisagens onde decorreu, em Abril de 1918, a Batalha de La Lys. Há ainda duas imagens dentro de uma única moldura, inéditas, registadas com uma câmara estenopeica panorâmica. A questão que se levanta é a seguinte: a câmara determina o olhar na paisagem, ou é alheia ao estilo fotográfico do olhar?

Conceição Magalhães em “A Questão do Vazio'”, explora a fronteira entre a vida e a morte, capturando nuances sensoriais e um espaço quase etéreo. A autora mergulha nesse espaço intermédio entre a vida e a morte, em busca de conexões entre os vestígios materiais e a narrativa contínua da vida. “Percebo os passos, os cheiros e as cores das interacções da vida, enquanto, simultaneamente, experimento, na quase ausência de luz, a réstia do pó da alma”, diz. Façamos como a artista, espreitemos pela brecha possível e vasculhemos. Como ela, também nós nos impressionamos com “as sugestões de salas, escadas e portas que se abrem, testemunhas silenciosas do tempo, indicando conexões entre diferentes percursos de histórias pretéritas. (…) Como um arqueólogo, interpretam-se as diferentes camadas dos tempos, criam-se rituais para garantir a veracidade da narrativa que não cessa, e assim, fazem-se relações e ficções, como se através de materialidades se depreendessem emoções, gestos, pensamentos.”

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