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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

EXPOSIÇÃO: "O Homem é Fenómeno Magistral"



EXPOSIÇÃO: “O Homem é Fenómeno Magistral”,
de Fernando Lanhas
Curadoria | Marta Moreira de Almeida
Museu de Arte Contemporânea de Serralves
07 Dez 2023 > 03 Mar 2024


Começo com uma sugestão: Se pretende visitar “O Homem é Fenómeno Magistral”, exposição de Fernando Lanhas patente no Museu de Serralves, detenha-se durante algum tempo na sua Autobiografia. Vai descobrir que esta figura destacada da Arte Portuguesa do século XX, aos 5 anos já observava formigas com o auxílio de uma lupa, aos 12 via a bioluminescência dos antípodes na Praia da Boa Memória, aos 17 desenhava a posição das manchas solares ao longo de dias e aos 19 executava em barro um modelo da superfície da Lua, da zona entre os Mares Imbrium e Nubium. Esta quase fixação pelo visível e mensurável tem o seu contraponto nos sonhos, que o artista começa a registar regularmente a partir de 24-25 de Agosto de 1943. Será o ser humano - esse “fenómeno magistral” - e a tentativa de o compreender, a moldar o pensamento de Fernando Lanhas, o seu entendimento do mundo e a compreensão de algo mais vasto do que o mundo, o universo. E será o ser humano que, de forma natural, acabará por constituir a escala de todo o seu processo artístico.

Arquiteto de formação, Lanhas cedo concluiu que teria de explorar outras áreas de interesse para atingir os seus propósitos de pesquisa, como a pintura, o desenho, a arqueologia, a botânica, a astronomia, a etnologia, a museografia, assim como a escrita poética e ficcional. A exposição agora apresentada reúne um núcleo muito significativo de obras suas e constitui uma oportunidade única para a compreensão da simultânea, e conciliável, diversidade e coerência de uma das obras mais fascinantes da segunda metade do século passado. O percurso proposto para esta apresentação passa pela criação de um eixo central no espaço da galeria do museu definido pela exibição das peças “Ortoscópio”, “Carta das distâncias e das rotas dos planetas do sistema solar e de algumas estrelas” e, ainda, “O Sol”. Estas três peças são emblemáticas das preocupações do artista relativas à representação e medição das distâncias do Universo.

A paleta de Lanhas é caracterizada por uma forte homogeneidade e por uma incessante busca da cor primordial, referencialmente criadas a partir de pedras moídas, que na maioria das vezes eram recolhidas durante as suas expedições na natureza. Este modo de construção da paleta de cores reflete de forma exímia a sua paixão pela arqueologia, pela botânica e pela geologia que irão influenciar de forma determinante o modo como o artista intitulou as suas obras, como se de um inventário se tratasse: catalogadas numericamente, exatamente como se fossem referências museográficas ou científicas, identificando o suporte, a ordem e, separados por um hífen, o ano de criação: a primeira letra indica o suporte utilizado, “C” para colagens, “D” para desenho, “O” para óleo e “P” para pedras. Um percurso de vida fascinante, traduzido num todo artístico de enorme coerência e significado. Para ver só até 03 de Março.


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