EXPOSIÇÃO: “Álbum de Família - Obras da Coleção Fundação Carmona e Costa”
Curadoria | João Pinharanda, Manuel Costa Cabral
MAAT Central
05 Out 2023 > 01 Abr 2024
Num país onde escasseiam, em contexto museológico, as possibilidades de ver arte portuguesa contemporânea, “Álbum de Família - Obras da Coleção Fundação Carmona e Costa” constitui uma oportunidade a todos os títulos excepcional. Maria da Graça Carmona e Costa reuniu estas obras no contexto da Fundação que instituiu e dirigiu com o seu marido Vítor Carmona e Costa e o que agora se mostra configura a utopia de um museu que faz falta ao país. Reflexo de um gosto pessoal, sempre aberto à mudança, as obras permitem uma visão abrangente sobre a criação portuguesa contemporânea consolidada, mas sempre atenta ao surgimento de novas propostas. No conjunto das colecções privadas e públicas conhecidas equiparáveis, esta é sem dúvida uma das mais extensas e uma das mais abrangentes em termos de gosto, fugindo, não raras vezes, aos cânones dominantes em cada uma das diferentes épocas em que se construiu.
Das especificidades da colecção destacam-se, para além da extensão e diversidade das obras que a integram, os numerosos exemplos em que podemos seguir, ao longo do tempo, as carreiras de alguns artistas (possibilidade rara no conjunto das colecções nacionais), a predominância do desenho como disciplina de referência em muitas das obras adquiridas, o intenso programa editorial paralelo com a produção direta ou apoio a mais de duas centenas de catálogos e livros sobre arte. “Sobre a Transformação das Nuvens” é o grande painel de entrada na exposição, criado por Pedro Calapez, precisamente com base nos catálogos e outras obras publicadas pela Fundação Carmona e Costa. É como representação da ideia de nuvem digital (ou “cloud”), que se deve perceber o conceito que preside à peça cenográfica através da qual Pedro Calapez dá consistência física (analógica e artística) ao armazenamento de conhecimento proporcionado pelas obras aqui apresentadas.
A Coleção Fundação Carmona e Costa foi e continua a ser constituída não como investimento mas como modo de reconhecimento e distribuição de valor. Com os seus instrumentos de análise, acumulados por décadas de observação e de seguimento e intervenção na realidade criativa nacional, Maria da Graça foi criando o seu puzzle pessoal, sem qualquer intenção historicista, sem a ambição de esgotar a realidade, guiada pelo seu prazer, enorme intuição e amor pela arte e pelos artistas, compondo ao longo destas décadas um verdadeiro álbum de família onde cada imagem testemunha uma relação pessoal e uma memória. Mais do que poder ser seguida ou ilustrada a partir da colecção, parte da história da arte contemporânea nacional revela-se na própria colecção e muitas das obras constituem-se como elementos factuais dessa mesma história. Através do acompanhamento das múltiplas linhas que tecem e cruzam a coleção e os tempos da criação artística, pretende-se com esta exposição perceber a realidade e expressão de uma vontade.
[Texto baseado na Folha de Sala que acompanha a exposição]
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