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domingo, 28 de janeiro de 2024

EXPOSIÇÃO: “Geografia do Espanto - Diálogo, Criação e Testemunho”



EXPOSIÇÃO: “Geografia do Espanto - Diálogo, Criação e Testemunho”
Bairro dos Livros
Direcção Artística e Criativa | Catarina Rocha, Minês Castanheira
Produção artística | Emilene Lima, Isabel Costa, Cláudia Correia, Susana Oliveira, Paulo Brás
Casa dos Livros
08 Jan > 09 Fev 2024


Pode um bairro caber numa casa? Se o “assunto” for livros, a resposta é sim. Parece estranho o que acabo de dizer, mas a verdade é que, até a 09 de Fevereiro, o Bairro dos Livros mostra-se na Casa dos Livros. É lá que podemos ver um conjunto de obras representativas de um percurso artístico e editorial que está a comemorar treze anos de criação a partir da literatura e de celebração dos livros e da leitura. Peças artísticas representativas dos vários projectos seleccionados para a exposição, testemunhos do envolvimento do Bairro dos Livros em dezenas de projectos criativos e interventivos que movem diferentes comunidades e públicos e geram novas dinâmicas culturais, vídeos documentais que exploram os processos criativos de cada um deles, textos de apoio e livros, muitos livros, constituem a “ementa” de uma exposição na qual importa determo-nos demoradamente e que sabe bem percorrer.

Cada projecto é revelador da persistência naquela que é a missão do coletivo e da convicção de que o trabalho artístico implica uma responsabilidade que não se esgota na arte em si mesma, mas que remete para uma preocupação ética e dever de ação cívico - sobretudo o de contribuir para uma sociedade mais sensível, mais lúcida e mais livre, a partir do testemunho do outro e da criação. Um dos mais extraordinários exemplos desta dinâmica é o projecto artístico colaborativo “As Penélopes”, peça distinguida internacionalmente pela União Europeia como uma das vinte melhores “Histórias do Património Europeu” de 2022. “As Penélopes” assenta na edição de textos originais, assinados por uma dúzia de escritoras das mais diversas áreas da literatura, e numa instalação artística que põe em diálogo a literatura com a arte do bordado. A obra, criada com camisolas poveiras, é uma homenagem contemporânea ao feminino sobre a paisagem, identidade e tradições da comunidade piscatória da Póvoa de Varzim.

“Ver do Bago. Um brinde entre Deus e os Homens” celebra a relação material e simbólica entre a vinha e a paisagem cultural e humana dos vales do Sousa, Douro e Tâmega, num ciclo de três exposições promovidas pela Rota do Românico, entre Maio de 2021 e Junho de 2022. A instalação “Cultivar” propõe uma interpretação artística coreografia e cénica sobre a actividade de produção vitivinícola dos mosteiros e a relação intrínseca entre o vinho e as actividades litúrgicas. Assumindo-se como uma metáfora para a indissociabilidade entre o universo literário e a própria vida dos participantes no projecto, a instalação “Poema em Lata” - desenvolvida no âmbito da oficina “O Poeta Faz-se”, projeto artístico colaborativo destinado a um público adulto em situação de risco e em processo de alfabetização - dá-se a ver através de um poema coletivo cuja leitura é apenas possível pela incidência da luz e do efeito da sombra sobre a fachada do corredor onde se encontra.

A última referência vai para “Musas”, oficina de escrita pensada em torno do feminino com meninas e jovens mulheres, entre os 12 e os 31 anos, do Patronato de São José, em Chaves. A partir do mote de Elke Heidenreich, que escreveu que a mulher deve ser musa de si própria, desenvolveu-se um livro e uma instalação artística feita de palavras e de luz. O projecto artístico foi promovido pelo Município de Chaves, no âmbito do “Cultura para Todos - A Criatividade Eleva o Espírito, Agita outros Mundos” e pretendeu reflectir colectivamente sobre o papel da mulher na sociedade e na escrita, criando-se um espaço de reflexão sobre identidade, liberdade e a criação no feminino. A instalação, desenvolvida a partir de textos colaborativos e poemas originais destas mulheres, trabalha o diálogo e as dicotomias que nascem desse exercício de reflexão - exploradas através de um jogo de luzes e sombra, com projecção, e fazendo uso de cores vibrantes e contrastantes -, resultando num testemunho cruzado desse processo de escrita, toda ela no feminino e a várias vozes.

[Baseado nos textos que acompanham as instalações]

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