A meio de uma tournée que teve o seu início em Bruxelas e se estende até ao início do próximo mês, à cidade de Portsmouth, no estado norte-americano de New Hampshire, John Scofield pisou o palco do Auditório de Espinho para um concerto único no nosso país. Trouxe com ele o baterista Bill Stewart e o contrabaixista Vicente Archer, dois músicos enormemente talentosos com os quais gravou o seu mais recente álbum com o selo da ECM, “Uncle John’s Band”. Trata-se de velhos conhecidos de andanças anteriores, o primeiro dos quais, ao lado do contrabaixista Steve Swallow e com Scofield no comando, formou o trio que gravou há vinte anos, no Blue Note Jazz Club de Nova Iorque, esse trabalho incontornável que é “EnRoute”. Já a parceria com Archer é mais recente e remete para “Combo 66”, álbum de Setembro de 2018 da galeria da Verve.
Com casa cheia para o escutar, o guitarrista viajou pela diversidade musical que vem colorindo uma longa carreira de quase meio século, oferecendo um alinhamento onde incluiu standards de jazz consagrados pelo tempo, clássicos do rock e dos blues, composições originais e as naturais improvisações que sempre surgem pelo caminho. De “Uncle John’s Band” começámos por escutar “How Deep” e “Mo Green” e foi notória a forma como estas composições - e, de um modo geral, todas as que se lhe seguiram -, foram veículos para a improvisação, transformando o concerto numa requintada jam session. O tema seguinte não constituiu excepção à regra, a dolência de “Lawns”, um sentido tributo de Scofield à recém-falecida Carla Bley, a impor-se em sobriedade e harmonia e abrindo espaço para que o guitarrista pudesse pôr em palco algo da sua criatividade e talento.
“Mr. Tambourine Man” foi outro dos bons momentos da noite, os acordes iniciais a levarem a música para o campo dos Blues, a conhecida melodia de Bob Dylan a surgir depois, ora limpa, ora transfigurada, mas sempre genial e a fundir-se com aquela de “Blowin’ in the Wind”. “Nothing is Forever” foi um tempo de contemplação e fascínio, de viagem por paisagens oníricas, enquanto “A Rose in Spanish Harlem” foi mais uma forma de tributo, desta vez a Ben E. King e Aretha Franklin. Já no “encore”, escutou-se “Mask” e Carla Bley voltou a “pisar o palco” com “Ida Lupino”, uma das suas composições mais icónicas. Eis, em suma, o sumo de um concerto que, como comentei na altura, “soube a pouco”. Considerado “um mestre na sua arte”, figura maior da guitarra desde os anos 1970, com mais de uma centena de álbuns editados, John Scofield atrai sobre si as atenções dos aficionados do Jazz e as expectativas são sempre as mais elevadas. Expectativas que, neste caso, se viram em parte goradas, já que apontamentos absolutamente geniais, se os houve, passaram-me ao lado.
[Foto: Auditório de Espinho - Academia | https://www.facebook.com/auditoriodeespinhoacademia]
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